Freddie Mercury morreu há 20 anos.
Ninguém discutirá se dissermos que ele é um dos maiores animais de palco do século XX e uma das mais inconfundíveis vozes de sempre da música. A sua vida privada e o facto de ter sido a primeira grande estrela rock a morrer de SIDA foram alvo de grande atenção mediática mas hoje, com 20 anos de distância do seu desaparecimento, o mundo sabe que o que ficou de Freddie Mercury foi a música. E ele ainda cá está, nas vozes e nos acordes de outros.
Apesar de também ter no currículo uma parcela a solo da sua carreira foi na música dos Queen que Freddie Mercury se celebrizou. A voz com uma alcance incomparável, as canções intemporais, fruto de uma mistura de influências nunca antes vista, as atuações «over the top» a atingir níveis de extravagância elevadíssimos, traziam ao mundo da música algo completamente novo.
Ele podia ter gerado paixões e ódios mas a verdade é que é difícil encontrar uma opinião negativa sobre a carreira do artista. A prova da sua relevância é que o seu legado cá continua. As músicas passam na rádio como se tivessem sido lançadas hoje, os álbuns vendem como se tivessem sido colocados à venda agora e muitos (muitos) artistas vão beber inspiração a Freddie. Ele está lá nas canções de Lady Gaga, dos Smashing Pumpkins ou dos Muse, nas vozes de Adam Lambert ou de Mika e até os Marretas lhe prestaram homenagem.
Freddie foi o primeiro em muitas coisas. Foi o primeiro com um estilo de atuação «flamboyant» numa banda de rock, foi o primeiro cantor de rock a mostrar que conseguia ir dos agudos aos graves sem qualquer dificuldade, foi o primeira «estrela de rock asiática» na Grã-Bretanha (nasceu a 5 de Setembro de 1946 na colónia britânica de Zanzibar, ilhas orientais que fazem hoje parte da Tanzânia, com o nome de Farrokh Bulsara, mas passou a infância na Índia). Foi também a primeira grande estrela rock a morrer de SIDA.
Foi na Índia que, aos 12 anos, formou a sua primeira banda, os «Hectics». Aos 17 mudou-se com a família para Feltham, na Inglaterra, e estudou Arte numa faculdade em Londres.
Depois de ter passado por algumas bandas, juntou-se, em 1970, ao guitarrista Brian May e ao baterista Roger Taylor para formar os Queen. Do trabalho que fizeram ao longo de 20 anos, ficaram hinos como «Bohemian Rhapsody», «Love of my Life» », «Crazy Little Thing Called Love», «The Show Must Go On» ou «We Are the Champions».
A solo, Freddie viria também a gravar temas como «Barcelona», ao lado de Monserrat Caballet, «I Was Born to Love You» e «Living on My Own». Em palco mostrava o seu alter-ego, recorrendo às maiores excentricidades, a um guarda-roupa espampanante e a encenações dignas do mais dispendioso musical. Mas em privado era um homem mais reservado, recusando muitas entrevistas e negando praticamente até ao fim que era seropositivo.
A sua intimidade recebeu quase tanta atenção quanto o seu «eu» em palco. Viveu durante vários anos com Mary Austin, que até ao final disse ser a sua «única amiga» e a quem deixou grande parte dos seus bens. Mas, em meados dos anos 70, começaram os rumores de que Mercury manteria uma relação com um executivo americano de uma empresa discográfica, ligação que terminaria o relacionamento com Mary Austin.
Desde então, a especulação nos média sobre as relações homossexuais do cantor passou a ser cerrada e ainda mais o foi quando boatos sobre a sua suposta doença vieram à tona. Na altura, nos anos 80, o termo VIH/SIDA era recente e o desconhecimento sobre como lidar com a doença ainda era grande. Foi nessa década que várias figuras públicas assumiram sofrer da doença. Foi na mesma altura que muitas delas sucumbiram a ela. O filósofo Michel Foucault, o ator Rock Hudson, o escritor Bruce Chatwin ou o compositor Howard Ashman foram algumas das suas vítimas.
Em 1991, depois de aparições públicas que já não deixavam margens para dúvidas mas uma insistente recusa em admitir a doença, Freddie emite um comunicado em que diz sofrer de SIDA. No dia seguinte, a 24 de Novembro, morre na sua casa em Kensington, ao lado do companheiro Jim Hutton e da ex-namorada e amiga Mary Austin. O seu corpo foi cremado e o paradeiro das cinzas, diz-se, apenas o sabe Mary Austin.
20 anos depois da sua morte, Freddie Mercury e os seus Queen, somam mais de 300 milhões de discos vendidos em todo o mundo e um reconhecimento que poucos têm. O espetáculo continuou e ele é ainda hoje o amor da vida de muitos.
20 anos depois: Freddie Mercury «não morreu, deixou de fazer música»