Bem sei que a história é sempre contada pelos vencedores, mas a ideia de que o 25 de Abril é um golpe de esquerda não é verdadeira.
Aliás, o 25 de Abril nem sequer é uma revolução, pois essa só começa mais tarde, a 11 de Março de 1975.
Na verdade, o 25 de Abril é apenas um golpe militar contra o poder político do Estado Novo, e nem sequer é a esquerda que fica a mandar no país depois desse golpe.
Quem é o primeiro presidente da República da nova democracia, gerada no dia 25 de Abril?
É o general Spínola! Sim, esse mesmo, que era o vice-chefe de Estado-Maior General do... Estado Novo!
Tinha-se demitido um mês antes, mas era um dos militares com mais prestígio no regime de Salazar.
Ou seja, o primeiro presidente da República que o golpe militar produz é um dos chefes, e símbolos, militares da ditadura!
Spínola, como todos sabem, não era um homem de esquerda, antes pelo contrário.
As suas ideias eram contrárias à descolonização, defendia um Estado Federal onde as colónias estavam ao mesmo nível da metrópole, e defendia uma democracia com limites.
Porém, é ele que todos escolhem para ser o primeiro presidente da nova República, nos dias seguintes ao golpe militar.
E digo todos porque foram mesmo todos.
No movimento dos capitães de Abril, havia muitos de "direita", como havia muitos outros que eram de "esquerda".
Na Junta de Salvação Nacional, um dos elementos escolhidos é Galvão de Melo, um general que nunca foi de esquerda.
E, quando o MFA se constitui originalmente, a ala dos militares de direita, apoiantes de Spínola, está lá representada em força.
Portanto, a conclusão que se deve retirar é que o golpe militar de 25 de Abril não é um golpe de esquerda.
É um golpe dos militares contra os políticos do Estado Novo, mas os militares são, nesse momento, de esquerda e de direita.
E podemos mesmo dizer que, nos primeiros meses a seguir ao golpe, quem domina a chefia do Estado é a direita, com Spínola, e não a esquerda.
É claro que, rapidamente, o processo político se descontrola e a direita militar de Spínola vai perder a liderança.
O general do monóculo virá a demitir-se depois de 28 de Setembro de 1974, e cairá em desgraça a 11 de Março de 1975, quando é obrigado a sair do país e vai exilado para Espanha.
É nesse momento que a direita militar se desliga da revolução, e que esta começa.
É só depois do 11 de Março que aparecem as nacionalizações, a ocupação do Alentejo com a "reforma agrária", e se intensificam as vagas de saneamentos e prisões.
Aí sim, a revolução começa, liderada pela extrema-esquerda de Otelo, Rosa Coutinho e Fabião, e com o apoio atento de Cunhal.
O 11 de Março é que é a revolução de esquerda, o 25 de Abril não é.
Era bom que a esquerda percebesse que o golpe militar teve o apoio da direita, e não se julgasse a "dona exclusiva" da democracia.
Este regime é de todos, não é só de alguns.
Fonte: Domingos Amaral
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