Há de haver, no livro de fábulas da Sociedade Metro Mondego, uma ilustração dos abutres do negócio imobiliário, de fita métrica na mão, espreitando por cima dos tapumes. Compreende-se. Quando se trata do centro das cidades, a medida de superfície deixa de ser o metro quadrado para passar a ser o cifrão quadrado, razão pela qual toda a vigilância é pouca para quem sonha, e luta, por que a Baixa volte a ter luzes nas janelas à hora em qua a Cidade se recolhe nas habitações. E há de aqueles que consideram que o trânsito automóvel é sinal de vida na Cidade, quando o que faz mesmo falta na Baixa de Coimbra é gente que ali gaste os passos.
Prepara-se para nascer a Via Central, órfã dos pais que a conceberam, para vir a ser aquilo que soubermos fazer dela. Não consta que se queira chamar àquele piso as rodas dos SMTUC, merecimento que é seu pelos tantos anos em que vem transportando esta Cidade de um lado para o outro. Não consta mas tem de constar. E haja quem grite, para que bem se ouça, que Cidade sem gente é ruína, mesmo que as paredes se levantem, inteiras, nas margens das suas ruas. E quem afirme que Baixa aberta ao trânsito farto não é Baixa, é avenida – a gente convertida em peão, serpenteando entre as latas.
A Via Central só faz sentido se for das pessoas e for do transporte público. Se for da habitação de baixo custo e do comércio para os dias todos. Se for para o lazer e para o recreio. A Via Central só faz sentido se for feita para ser Baixa – Coimbra, afinal.
Manuel Rocha in Diário As Beiras
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