quarta-feira, 29 de junho de 2016

A informática... do Prof-Folio - Project Bloks: A Google quer ensinar as crianças a programar!



Trago hoje um projeto muito interessante, que à semelhança de outros já existentes, poderão ser uma mais-valia no desenvolvimento da consciência lógico-matemática dos nossos alunos. Pela simplicidade, poderá ser executado perfeitamente no primeiro ciclo.

A vertente educacional da Google sempre foi muito elevada. Para além de fornecer às escolas aplicações e serviços a custo zero, dedica-se muitas vezes a tentar criar as bases para os inventores e programadores do futuro.

Na continuação de todos os seus esforços, a Google apresentou agora o Project Bloks, uma plataforma direccionada para crianças com o objectivo de as ensinar a programar.


O Project Bloks assenta numa plataforma muito simples e que permite a qualquer criança começar a dar os primeiros passos no mundo da programação, podendo desde o início interagir com hardware, que ele próprio pode interagir com outros elementos.

A ideia da Google foi criar uma plataforma que permitisse criar comandos que são transmitidos e que permitem materializar toda a programação que pode ser feita, dando aos mais pequenos uma forma de verem as suas criações a agir.

Para dar esta capacidade ao Project Bloks foram criados 3 módulos distintos e que conseguem “conversar” entre si. O primeiro desses elementos é o Brain Board, que é o cérebro de todos estes elementos e onde está concentrado todo o processamento. Assente num Raspberry Pi Zero, consegue controlar e dar energia a todos os restantes elementos. É também por este que o Brain Board comunica com outros dispositivos, quer por Wi-Fi quer por Bluetooth.


O segundo elemento desta cadeia é a Base Board. Podem ser interligadas várias entre si e destinam-se a transmitir as instruções e os comandos para os restantes elementos, criando cadeias de código.

Por fim temos os Pucks. A estes cabe o papel de interagir com outros elementos fora da cadeia do Project Bloks e foram criados propositadamente para serem de baixo custo. A sua função pode ir desde o simples apagar de uma lâmpada, mover elementos ou tocar uma música.

Os Pucks podem ser algo tão simples como uma folha de papel onde foi traçado um caminho com tinta condutora e que assim se torna um elemento do Project Bloks. Claro que há elementos bem mais complexos e que podem ser criados pelas próprias crianças.

A Google vai agora iniciar as primeiras experiências com o Project Bloks, estando para já limitadas a algumas escolas, provavelmente nos Estados Unidos. Mais tarde, e dependendo do sucesso do Project Bloks, será alargado.

Este é mais um projecto da Google que quer trazer as crianças para a tecnologia desde muito cedo, habituando-as a lidar com ela e mostrando formas como esta pode ser útil.

Site: Fonte: Pplware

terça-feira, 28 de junho de 2016

A Literatura do Prof-Folio - Dez inesquecíveis poemas de Mia Couto

Mia Couto é conhecido internacionalmente pelas suas extraordinárias histórias, bem como, pela invenção de novos vocábulos! Os seus contos e os seus romances são lidos em todos os continentes e em inúmeras línguas, culturas e credos diversificados.

Valendo-se de uma linguagem marcadamente poética, as suas histórias encantaram o mundo.

Para além de romancista, Mia é também poeta, tendo já publicado quatro livros de poesia: “Raiz de orvalho e outros poemas” (1999), “Idades, cidades, divindades” (2007), “Tradutor de Chuvas” (2011) e “Vagas e Lumes” (2014).

Selecionámos dez poemas dessas quatro obras de forma a demonstrar a genialidade poética deste escritor.

Usufrua!


Mia Couto por Maria José Cabral

O Amor, Meu Amor

Nosso amor é impuro
como impura é a luz e a água
e tudo quanto nasce
e vive além do tempo.

Minhas pernas são água,
as tuas são luz
e dão a volta ao universo
quando se enlaçam
até se tornarem deserto e escuro.
E eu sofro de te abraçar
depois de te abraçar para não sofrer.

E toco-te
para deixares de ter corpo
e o meu corpo nasce
quando se extingue no teu.

E respiro em ti
para me sufocar
e espreito em tua claridade
para me cegar,
meu Sol vertido em Lua,
minha noite alvorecida.

Tu me bebes
e eu me converto na tua sede.
Meus lábios mordem,
meus dentes beijam,
minha pele te veste
e ficas ainda mais despida.

Pudesse eu ser tu
E em tua saudade ser a minha própria espera.

Mas eu deito-me em teu leito
Quando apenas queria dormir em ti.

E sonho-te
Quando ansiava ser um sonho teu.

E levito, voo de semente,
para em mim mesmo te plantar
menos que flor: simples perfume,
lembrança de pétala sem chão onde tombar.

Teus olhos inundando os meus
e a minha vida, já sem leito,
vai galgando margens
até tudo ser mar.
Esse mar que só há depois do mar.

In “Idades cidades divindades”


Para Ti

Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo

Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que talhei
o sabor do sempre

Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só
amando de uma só vida

In “Raiz de Orvalho e Outros Poemas”


Destino

à ternura pouca
me vou acostumando
enquanto me adio
servente de danos e enganos

vou perdendo morada
na súbita lentidão
de um destino
que me vai sendo escasso

conheço a minha morte
seu lugar esquivo
seu acontecer disperso

agora
que mais
me poderei vencer?

In “Raiz de Orvalho e Outros Poemas”


Espiral

No oculto do ventre,
o feto se explica como o Homem:
em si mesmo enrolado
para caber no que ainda vai ser.

Corpo ansiando ser barco,
água sonhando dormir,
colo em si mesmo encontrado.

Na espiral do feto,
o novelo do afecto
ensaia o seu primeiro infinito.

In “Tradutor de Chuvas”


Saudade

Que saudade
tenho de nascer.
Nostalgia
de esperar por um nome
como quem volta
à casa que nunca ninguém habitou.
Não precisas da vida, poeta.
Assim falava a avó.
Deus vive por nós, sentenciava.
E regressava às orações.
A casa voltava
ao ventre do silêncio
e dava vontade de nascer.
Que saudade
tenho de Deus.

In “Tradutor de Chuvas”


Mudança de Idade

Para explicar
os excessos do meu irmão
a minha mãe dizia:
está na mudança de idade.
Na altura,
eu não tinha idade nenhuma
e o tempo era todo meu.
Despontavam borbulhas
no rosto do meu irmão,
eu morria de inveja
enquanto me perguntava:
em que idade a idade muda?
Que vida,
escondida de mim, vivia ele?
Em que adiantada estação
o tempo lhe vinha comer à mão?
Na espera de recompensa,
eu à lua pedia uma outra idade.
Respondiam-me batuques
mas vinham de longe,
de onde já não chega o luar.
Antes de dormirmos
a mãe vinha esticar os lençóis
que era um modo
de beijar o nosso sono.
Meu anjo, não durmas triste, pedia.
E eu não sabia
se era comigo que ela falava.
A tristeza, dizia,
é uma doença envergonhada.
Não aprendas a gostar dessa doença.
As suas palavras
soavam mais longe
que os tambores nocturnos.
O que invejas, falava a mãe, não é a idade.
É a vida
para além do sonho.
Idades mudaram-me,
calaram-se tambores,
na lua se anichou a materna voz.
E eu já nada reclamo.
Agora sei:
apenas o amor nos rouba o tempo.
E ainda hoje
estico os lençóis
antes de adormecer.

In “Tradutor de chuvas”


Idade

Mente o tempo:
a idade que tenho
só se mede por infinitos.

Pois eu não vivo por extenso.

Apenas fui a Vida
em relampejo do incenso.

Quando me acendi
foi nas abreviaturas do imenso.
Mia Couto

In “Vagas e lumes”


Companheiros

quero
escrever-me de homens
quero
calçar-me de terra
quero ser
a estrada marinha
que prossegue depois do último caminho

e quando ficar sem mim
não terei escrito
senão por vós
irmãos de um sonho
por vós
que não sereis derrotados

deixo
a paciência dos rios
a idade dos livros

mas não lego
mapa nem bússola
porque andei sempre
sobre meus pés
e doeu-me
às vezes
viver
hei-de inventar
um verso que vos faça justiça

por ora
basta-me o arco-íris

em que vos sonho
basta-te saber que morreis demasiado
por viverdes de menos
mas que permaneceis sem preço

companheiros

In “Raiz de orvalho e outros poema”

Promessa de uma noite

cruzo as mãos
sobre as montanhas
um rio esvai-se

ao fogo do gesto
que inflamo

a lua eleva-se
na tua fronte
enquanto tacteias a pedra
até ser flor

In  “Raiz de orvalho e outros poema”


O Espelho

Esse que em mim envelhece
assomou ao espelho
a tentar mostrar que sou eu.

Os outros de mim,
fingindo desconhecer a imagem,
deixaram-me a sós, perplexo,
com meu súbito reflexo.

A idade é isto: o peso da luz
com que nos vemos.

In “Idades Cidades Divindades”

Fonte: Conti Outra

Ano letivo de dois semestres em vez de três períodos?


Os directores escolares defendem que o ano lectivo no ensino básico e secundário devia ser dividido em apenas dois semestres, tal como acontece no ensino superior, em vez dos actuais três períodos.

"A ano lectivo devia ter apenas duas épocas de avaliação: em Fevereiro e no final do ano, mantendo-se as pausas que já existem, do Natal, Carnaval e Páscoa", defendeu Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP).

No final de Março, directores das escolas estiveram reunidos com a equipa liderada pelo ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, a quem apresentaram esta proposta, mas a proposta de calendário escolar publicada em Diário da República na sexta-feira voltou a definir mais um ano lectivo dividido em três períodos.

Filinto Lima admite que a proposta foi apresentada "um pouco tarde" para conseguir mudanças imediatas: "Estas medidas exigem discussão e debate, se bem que junto dos directores e professores acolhem todo o interesse."

Os momentos de pausa e avaliação dos alunos do ensino básico e secundário coincidem com o calendário religioso do Natal e da Páscoa, havendo anos em que os períodos apresentam durações muito diferentes, como acontece no próximo ano lectivo.

"Vamos ter um primeiro período com 67 dias de aulas, o segundo terá 54 e o terceiro será de 29 dias, no caso dos alunos do 9.º, 11.º e 12.º ano", sublinhou Filinto Lima.

Os directores acreditam que ter apenas dois momentos de avaliação seria bom para o sucesso educativo e para o combate ao abandono escolar.

"Por exemplo, um aluno que tem negativa nos dois primeiros períodos, fica desmotivado e não acredita que consegue recuperar num período de apenas 29 dias", defendeu o presidente da ANDAEP, sublinhando que "é preciso vontade política para fazer a mudança".

O despacho de calendário escolar prevê ainda que os alunos do 1.º ciclo possam ter mais três semanas de aulas, uma alteração que Filinto Lima não critica, por entender que se trata de "um ciclo estruturante para os alunos".

O presidente da ANDAEP saudou ainda a decisão do ME em escolher de forma rotativa as disciplinas a que os alunos são alvo de avaliação, contrariando a política do executivo anterior que apostava na Matemática e na Língua Portuguesa.

"Achamos bem, para que não pensem que há áreas do saber de primeira e áreas de segunda. Claro que a Matemática e o Português são estruturantes, mas todas as disciplinas são importantes", defendeu.

No próximo ano, as provas de aferição dos estudantes do 2.º ano vão incidir sobre as disciplinas de Português, Matemática, Estudo do Meio e Expressões Artísticas e Físico-Motoras.

Já os alunos do 5.º ano vão ser avaliados sobre os seus conhecimentos a História e Geografia de Portugal e Matemática e Ciências Naturais.

Os estudantes do 8.º realizam provas a Ciências Naturais e Físico-Química e Português.

Apesar de os resultados das provas de aferição não contarem para nota, a sua realização é obrigatória e irá decorrer entre os meses de Maio e Junho. O ano lectivo começa entre os dias 9 e 15 de Setembro.

Fonte: Público

domingo, 26 de junho de 2016

Calendário Escolar - Ano letivo 2016/2017

ENSINOS BÁSICO E SECUNDÁRIO

1.º Período

Início Entre 9 e 15 de setembro de 2016

Termo 16 de dezembro de 2016

2.º Período

Início: 3 de janeiro de 2017

Termo: 4 de abril de 2017

3.º Período

Início: 19 de abril de 2017

Termo:
  • 6 de junho de 2017 – para os alunos dos 9.º, 11.º e 12.º anos ;
  • 16 de junho de 2017 – para os alunos do 5.º, 6.º, 7.º, 8.º e 10.º anos;
  • 23 de junho de 2017 – para os alunos do 1.º, 2.º, 3.º e 4.º anos.
Interrupções letivas

1.º – Férias de Natal: De 19 de dezembro de 2016 a 2 de janeiro de 2017

2.º – Carnaval: De 27 de fevereiro de 2017 a 1 de março de 2017

3.º – Férias da Páscoa: De 5 a 18 de abril de 2017


CALENDÁRIO DAS PROVAS DE AFERIÇÃO 2017
2º, 5º e 8º anos de escolaridade


1º CICLO
2º ano

Expressões Artísticas e Físico-Motoras – Entre 2 e 9 de maio

Português e Estudo do Meio – 19 de junho – 9h00

Matemática e Estudo do Meio – 21 de junho – 9h00

2º CICLO
5º ano


História e Geografia de Portugal – 8 de junho – 9h00

Matemática e Ciências Naturais – 12 de junho – 11h00

3º CICLO
8º ano


Ciências Naturais e Físico-Químicas – 8 de junho – 11h00

Português – 12 de junho – 9h00


CALENDÁRIO DAS PROVAS FINAIS DO 3º CICLO 2017
9º ano de escolaridade


3º CICLO (9º ano)

1ª Fase

PLNM (93) (94) – 19 de junho – 9h30

Português (91) – 22 de junho – 9h30

Português Língua Segunda (95) – 22 de junho – 9h30

Matemática (92) – 27 de junho – 9h30

Afixação de pautas: 14 de julho

Afixação dos resultados dos processos de reapreciação: 14 de agosto

2ª Fase

PLNM (93) (94) – 20 de julho – 9h30

Português (91) – 21 de julho – 9h30

Português Língua Segunda (95) – 21 de julho – 9h30

Matemática (92) – 24 de julho – 9h30

Afixação de pautas: 4 de agosto

Afixação dos resultados dos processos de reapreciação: 25 de agosto


Calendário das provas finais de ciclo – 2016

1º CICLO

1ª fase


Português – 24 de maio – 14h00 (Já não se vai realizar!!!)

Matemática – 26 de maio – 14h00 (Já não se vai realizar!!!)

2ª fase

Português – 13 de julho – 9h30 (Já não se vai realizar!!!)

Matemática – 15 de julho – 9h30 (Já não se vai realizar!!!)


2º CICLO

1ª fase


Português – 24 de maio – 9h30 (Já não se vai realizar!!!)

Matemática – 26 de maio – 9h30 (Já não se vai realizar!!!)

2ª fase

Português – 13 de julho – 9h30 (Já não se vai realizar!!!)

Matemática – 15 de julho – 9h30 (Já não se vai realizar!!!)


3º CICLO

1ª fase


Português – 17 de junho – 9h30

Matemática – 21 de junho – 9h30

2ª fase

Português – 15 de julho – 9h30

Matemática – 20 de julho – 9h30

sábado, 25 de junho de 2016

O professor que aboliu os TPC (e os exames, os chumbos, as campainhas...)

Adelino Calado é diretor do Agrupamento de Escolas de Carcavelos, mas não é um diretor comum: pôs em prática medidas inovadoras que transformaram uma escola quase em extinção num sítio onde é bom aprender.



Cada segundo é o tempo de mudar tudo para sempre’, anuncia-se à entrada da Escola Secundária de Carcavelos. O seu diretor é um exemplo disto. Adelino Calado ficou conhecido como o diretor da ‘escola onde não se chumba’, embora afirme que as coisas não podem ser ditas assim.

Na direção do Agrupamento de Escolas de Carcavelos desde 2003, ‘orquestrou’ medidas como acabar com os TPC, eliminar os toques de entrada, esquecer os exames, admitir os telemóveis na aula, que mudaram totalmente a escola e os seus alunos. Mas diz que já faz isso ‘há anos’ e que ‘só agora é que parece que é novidade’.

Novidade ou não, é sempre bom falar em certos assuntos. Ele concorda. “Temos quase 2 mil alunos, 150 deles com necessidades especiais, muitos com subsídio, somos uma escola pública, e a prova de que com trabalho e criatividade se consegue resolver muitos problemas.” Faz questão de me mostrar a escola toda (agora deserta porque estamos nas férias da Páscoa). Subimos e descemos degraus (ele com mais ligeireza que eu, bem se vê que é de educação física). Aqui é a sala de física, ali o laboratório, aqui a sala de ensino especial, aqui a sala de ensino profissional artístico, aqui a biblioteca, aqui o pavilhão desportivo, aqui o campo de jogos, aqui onde se guardam os barcos (há uma escola de atividades náuticas). A cafetaria é enorme. Tem três micro-ondas. E televisões. Quero andar nesta escola. Posso vir aqui almoçar, ao menos?

Ele ri-se. Quando veio para cá, a escola não era nada bem frequentada. “Comecei a fumar para me enturmar com os ‘gangues’”, ri-se. Para ele, a relação com os alunos é a base de qualquer escola. “Hoje em dia, esta é a casa das crianças. Há miúdos que ficam aqui até à noite…” Mas nem todas as escolas são uma ‘casa’, como esta.

Começou como atleta e depois professor de educação física…

Ainda sou. Acabei o curso em ‘71, e fui para professor porque era a área com mais saída. Também estive sempre ligado à formação de treinadores. Só saí desta escola por dois anos, para abrir a Frei Gonçalo de Azevedo, mas voltei logo depois. Em 2003, quando a diretora saiu, candidatei-me com uma boa equipa e um projeto totalmente novo.

Como era esta escola, nessa altura?

Muito má. Dávamos apoio a bairros muito carenciados, recebíamos miúdos que ninguém queria, havia imensos problemas disciplinares, uma taxa de retenção enorme, e a escola estava quase em extinção. Portanto, o primeiro objetivo foi acabar com as retenções.

Foi aí que entrou aquela medida do ‘toda a gente passa’?

Foi aí, foi. Mas essa expressão é de um jornalista, não é minha. É um exagero, embora a retenção hoje seja de facto residual. A questão era: não fazia sentido estar a passar alunos que depois não aprendiam nada. Alguém come um prato de sopa fria? Não. E também não se aprende matéria ‘requentada’. Isto qualquer pessoa percebia que não funcionava. Então porquê insistir numa coisa que não funciona? E os maiores problemas disciplinares vinham precisamente de repetentes. Por isso, usou-se a lógica e o bom senso. E sem nunca fugir à legislação – não temos uma única medida fora da lei – começámos a procurar outras soluções: porque as há, não são é postas em prática. Uma delas foi evitar ao máximo as retenções. Ora não retendo, tínhamos de dar mais apoio para que aqueles miúdos conseguissem acompanhar os outros. Mas não chegava. E havia, na lei, outras opções para eles: cursos profissionais, currículos alternativos, outro tipo de ofertas que podiam estar à disposição. E foi tudo isso que passámos a oferecer, a par de muito mais apoio nas aulas.

Como é que passando um aluno faz diminuir a indisciplina? 

Dantes a mentalidade escolar era esta: se o aluno estuda, ao fim do ano tem um prémio e passa, se o aluno não estuda, ao fim do ano tem um castigo e chumba. O que é que acontece com este esquema: o aluno que chumba, no ano seguinte é o mais velho da sua turma. Tem o poder e a aura dos malcomportados, e torna-se no líder que não era. Depois, já ouviu a maioria das matérias, portanto tem o trabalho facilitado e não se esforça. Pelo contrário, se transitar com os outros, tem de fazer um duplo esforço: o mesmo que os outros, mais o trabalho que deixou para trás. Portanto, não se torna um revoltado, não se torna um líder, e é obrigado a trabalhar mais. Outra coisa que reparámos era que mais de 90% dos problemas disciplinares aconteciam à sexta à tarde, quando os miúdos estavam mais cansados. Por isso, até hoje não temos aulas à sexta de tarde.

Os pais foram envolvidos nisto? 

Sim, principalmente ao princípio. Chamámos todos eles, e sempre que não vinham, tinham falta. Quando um miúdo levava um papel amarelo a lamentar que o pai não tenha comparecido, aquilo fazia mossa. E teve muito impacto. Hoje temos uma assembleia de pais de três em três meses, e de alunos de mês a mês. Porque uma das coisas de que os miúdos mais se queixavam era de não serem ouvidos. Portanto, fomos ouvi-los. Hoje, todas as turmas se juntam, cada turma uma vez por mês, e todas uma vez por ano. No início, as assembleias eram na base do ‘alguém quer dizer alguma coisa?’, mas depois eles só falavam de coisas básicas, do tipo ‘falta papel higiénico’ (risos). Agora as coisas já são mais elaboradas: ‘um professor pode avançar na matéria e deixar alunos para trás?’ E isto não pode ser respondido de ânimo leve. Por isso, eles entregam estas perguntas por escrito oito dias antes da assembleia.

O que foi mais importante mudar? 

A autonomia dos miúdos. Todos me diziam que eles não se empenhavam e que não eram autónomos. Por isso, fomos trabalhar a área da autonomia. Por exemplo, nas escolas com pré-escolar, os pequeninos assim que chegam marcam eles próprios o seu almoço. Os pais diziam-me – Ó professor, mas eles têm 3 anos! – Então mas já sabem fazer um risco, ou não? Portanto, até esses quando chegam vão logo fazer o seu risquinho na folha do almoço. E por aí fora. Com os mais velhos, deixámos de ter toques de campainha, e são eles os responsáveis pelo livro de ponto.

E chegam a horas às aulas?

Temos apenas 0,7% de atrasos. Porquê? Porque chegar atrasado aqui à escola é um pincel. Se chegam tarde têm de ir à biblioteca buscar um papel para fazer o relatório explicando porque chegaram atrasados, ir ao Gabinete do Aluno, que é longe, telefonar aos pais e lê-lo, e voltar à direção para carimbar a explicação e entrar na aula. Quando são pequenos e a culpa dos atrasos é dos pais, estes têm de explicar por escrito a razão do atraso. Ninguém gosta, embora haja respostas criativas. Uma vez tive um pai zangado que respondeu – Caiu-me um ovni à frente do carro. Chamámos cá o pai, ele veio e tinha à espera dele sete elementos da escola e o filho. Não foi preciso dizer mais nada. Hoje não temos atrasos.

Trazer o telemóvel para a aula também faz parte dessa autonomia?

Pois claro. O aluno pode usar o telemóvel na aula para ir à internet, para filmar, para tirar uma fotografia ao quadro, por exemplo. À vontade. Se um professor não quiser, pode não autorizar. Mas, em geral, deixam, porque há bom senso. Os alunos sabem exatamente qual é o limite. Por exemplo, se mandarem mensagens sem autorização, são imediatamente suspensos.

Já aconteceu?

Já. Desde setembro, foram 15 alunos para casa, dos quais 14 meninas do 8.º ano (risos). Mas é normal, o 8.º é o ano do confronto, querem testar regras.

E como é que acabou com os TPC?

É preciso dizer que todas estas regras só passam se forem aprovadas por maioria. Eu não imponho nada, só proponho. Antes de abolirmos os trabalhos de casa, andámos seis anos a testar hipóteses. Por exemplo, dividimos os alunos em turmas com trabalhos de casa e turmas sem trabalhos de casa, para confirmarmos se havia diferenças de rendimento. Não havia. Nenhumas. Ao fim de seis anos de testes, fiz a proposta de proibir os trabalhos para casa no primeiro ciclo. Tive uma surpresa: o conselho geral propôs abolir em todos os anos. E avançámos. A grande questão não foi acabar com os TPC, mas acabar com trabalhos como uma obrigação e um castigo. O trabalho em casa é fundamental: mas temos de encontrar formas de motivá-lo sem mandar trabalhos obrigatórios, valorizando o trabalho autónomo.

Como é que isso se faz?

No início do ano, pedimos aos pais para comprar ao filho um caderno de trabalho autónomo. Mensalmente, o professor pergunta quem quer mostrar o que fez. E o que surge é espetacular! Eles trabalham mesmo porque querem. Dizem que quando havia TPC, faziam o que a professora mandava. Agora, trabalham eles próprios no que sentem que têm mais dificuldades. E ninguém anda em cima deles em stresse, nem pais nem professores. Claro que tornar as aprendizagens significativas dá muito mais trabalho ao professor, que tem de lhes mostrar que aquela informação é importante.

Fazia os trabalhos de casa com os seus filhos, quando eram pequenos? 

Normalmente, não os deixava fazê-los. Dizia aos professores que não havia tempo. Os miúdos entram às 8 da manhã, saem às 8 da noite, levam trabalhos para fazer quando?

Então e a parte de não haver exames? 

E não há. Aquilo que queremos saber é se o aluno aprendeu ou se não aprendeu. No final de cada período há um teste de aferição, para ver se os alunos aprenderam. Mas não tem a ver com os testes normais que nós fazíamos. Normalmente, o que se fazia era dar matéria e depois avaliar conhecimentos. Mas nós não avaliamos conhecimentos, avaliamos aprendizagens. Por exemplo, quando um aluno meu faz uma cambalhota, eu corrijo no momento e a cada uma. Não treino dez vezes e um mês depois vou ver se faz bem ou mal. Portanto, avaliamos cada aprendizagem na altura, não deixamos matéria para trás, e se não aprendeu, vamos ver como é que pode aprender. Por outro lado, aceitamos o erro. Temos imensa dificuldade em fazer isso, porque culturalmente castigamos o erro em vez de o permitir e de trabalhar com ele. Por exemplo, eu sou um nabo com telemóveis, e muitas vezes peço ajuda aos alunos. Porque é que acha que eles são bons em tecnologia?

Porque já nasceram assim?

Não. Porque não têm medo de mexer na ‘máquina’, andam ali imenso tempo a mexericar em tentativa e erro. Nós, adultos, temos medo de fazer asneiras. Fomos educados assim. Portanto, aqui não penalizamos o erro, partimos dele. O problema é que nós achamos que devemos proteger muito as criancinhas e facilitar-lhes o trabalho. Não é facilitando que se aprende.

Qual é o papel do professor?

Um miúdo de dez anos hoje tem mais informação do que tinha um imperador romano. Não está é ordenada, e é uma confusão de todo o tamanho naquelas cabeças. Portanto, um professor hoje tem de orientar mais do que ensinar da maneira tradicional. Só que isso obriga-nos a nós, professores, a reformular o nosso pensamento e a nossa ação. Acho que devemos ser treinadores mais do que professores.

Como reagiram os pais a tudo isto?

Em 2003, quando disse que não havia mais exames, quase tive de chamar a polícia. Mas acabaram por perceber que os nossos métodos funcionavam, e que não haver exames não significa que não haja avaliação, pelo contrário. Os alunos são avaliados, mas todos os dias, para percebermos se estão a aprender ou não. Não precisam de fazer diretas para estudar na véspera. E o teste que fazemos não é uma avaliação, é mais uma prova de aferição. A positiva é onde têm de estar todos os alunos. Entre fichas individuais, trabalhos de grupo, projetos, etc., temos 11 elementos que permitem ao professor avaliar de forma mais efetiva, tendo em conta vários tipos de inteligência e formas de aprender. E são mais importantes que um teste, que pode correr mal porque a pessoa dormiu mal de noite.

Como é que ficaram as notas? 

Nós não somos uma escola de elite. A nossa média no ensino básico é muito alta. No secundário, coexistem diversas áreas. No ensino regular, temos muitos alunos médios, muito poucos muito maus e muito poucos muito bons. O problema dos ‘rankings’ é que o resultado do exame nem sempre é o resultado do que eles sabem. Imagine que é aluna: se só treinar para um teste, vai ter resultados brilhantes no teste, mas depois se calhar sabe menos de maneira geral. Se o objetivo for entrar na faculdade, aí obviamente tem de treinar para os exames. Mas se o objetivo for aprender, então têm de trabalhar de outra maneira. Este ano temos dois alunos com média de 20. Uma curiosidade que eu tenho é esta: era interessante perceber qual é o curso superior com mais exigência de entrada, e depois desses que entram, quantos de facto acabam o curso.

Alguma vez se sentiu discriminado por ser professor de educação física?

Não, porque ninguém me vê assim. Alguns miúdos acham que eu sou professor de filosofia (risos) porque quando algum professor falta, eu vou lá falar com eles. Todas as turmas têm aulas comigo pelo menos uma vez por ano.

Os miúdos mexem-se menos hoje?

Claro que sim. Não podem jogar à bola, correr... Quando se tem a vida toda supervisionada, só se pode aprender o que os outros querem que aprendam, e isso não lhes interessa. Depois fazem asneiras, hoje todas tecnológicas. Porque o mundo virtual é o único sítio onde não estão controlados. Estão de tal maneira viciados que tocam às campainhas com o polegar (risos). E não têm limites nenhuns, ninguém se preocupa em lhos impor. Do ponto de vista da educação física, os miúdos são cada vez mais totós. Quando começam a jogar vólei, levam com a bola na cabeça (risos).

O que é que os miúdos precisam de saber mais? 

Expressar-se. Conversar. Dar-se socialmente com os outros. É curioso que nas empresas os empregadores não procuram quem sabe muito, procuram quem se sabe comportar socialmente. E isso os miúdos hoje não aprendem, porque a paciência, o saber ouvir, o saber conversar, é pouco trabalhado nas escolas. Os pais não falam com eles, eles também não falam uns com os outros, e portanto têm hoje imensas dificuldades na socialização.

O que é que o desporto lhe ensinou?

Duas coisas fundamentais: paciência e trabalho. Isso faz-nos muita falta hoje.

É isso que faz um bom professor?

Para mim, o que faz um bom professor é a paciência e o saber ouvir. Sem estas qualidades, dificilmente conseguirá entrar no mundo dos seus alunos.


Senhor treinador

Adelino Calado formou-se em educação física, e em artes no IADE. Foi jogador de andebol de alta competição, presidente do Clube de Sassoeiros e da Federação Portuguesa de Corfebol, e responsável pela formação de treinadores da Federação Portuguesa de Andebol. Hoje é Diretor do Agrupamento de Escolas de Carcavelos (oito escolas agregadas à escola sede, 2465 alunos do Pré-Primário ao 12.º). Em 2003, quando passou à direção da escola, esta tinha os piores resultados de todo o concelho de Cascais: a taxa de retenção chegava aos 50%,

Havia problemas de indisciplina, de droga, de atrasos, de não-aproveitamento. Hoje, tudo isto praticamente desapareceu, e o agrupamento subiu imenso no ranking. O diretor defende que isto não é obra de uma pessoa: ‘são os professores que fazem a diferença’.


Excelente entrevista sobre a coragem de alterar alguns dos paradigmas da Escola

Fonte: Activa

sexta-feira, 24 de junho de 2016

50º aniversário da morte do Monsenhor Joaquim Alves Brás (Casegas)

Trata-se de um video experimental, realizado pelo conterrâneo e amigo António Madeira Antunes, em que tive o privilégio de fazer de figurante...


Verifique a saúde do seu PC com estas ferramentas

Por muitos cuidados que se tenha durante a utilização de um computador, existem sempre problemas que vão surgindo. Felizmente, para a maioria deles existe uma solução, mas primeiro é necessário diagnosticá-los.

Hoje deixamos-lhe 7 ferramentas que o vão ajudar a verificar a saúde do seu computador.



1. Monitor de Desempenho

O Windows tem já integrado um software que permite avaliar o desempenho do seu computador. No Windows 10, basta aceder ao menu iniciar do Windows e escrever “Monitor de Desempenho” (ou “Performance Monitor”) e abrir a aplicação.



Por definição, o Monitor só apresenta a percentagem do Tempo de Processador, que revela quanto da CPU está a ser utilizada em determinado momento. A esta análise poderá adicionar outros parâmetros como a utilização de disco, a energia utilizada, o tamanho índice de pesquisa, entre outras opções.

2. CPU-Z

O CPU-Z é um software que analisa e apresenta a informação de todo o hardware interno. É indispensável para, por exemplo, quem pretende alterar peças do PC e evitar problemas de incompatibilidade. No caso de querer comprar um computador em segunda mão, este software poderá ser útil para confirmar se inclui todo o hardware indicado pelo vendedor.



Fonte: Pplware

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