No Editorial da "Ensino Magazine", João Ruivo, faz mais uma vez uma análise que da nova era que vivemos, em que a Escola terá necessariamente de adaptar-se às novas realidades.
Na era da informação, a oferta de trabalho de profissões baseadas exclusivamente em competências manuais está em declínio. Daí que novas aprendizagens baseadas na manipulação e na gestão da informação de bases de dados digitalizados se afigure indispensável na abordagem dos objectivos escolares das novas gerações. Nesse novo domínio em que projectam as preocupações dos educadores, a Internet tem um papel importante a desempenhar. Duvidamos, todavia, que essa importância advenha da simples disponibilização e democratização nas escolas do acesso a esse serviço.
Pode o simples manejo de uma nova máquina, ou de um novo serviço, contribuir para o desenvolvimento pessoal e intelectual? Se não, porque insistem os diferentes responsáveis educativos em simplesmente dotar as escolas com alguns (e indiscutivelmente poucos) computadores, com serviços de acesso às redes digitais limitados, ignorando que o importante não é mais a "actualização contínua" das máquinas, mas sim a "formação permanente" dos docentes e alunos que a elas têm acesso?
Sabemos que a escola de massas dificulta a inclusão digital de todos os discentes, já que promove um novo tipo de estratificação escolar que divide os que têm computadores ou tablets em casa e os que não os têm; os que têm Net em casa e os que a não têm; os que têm Net de alta velocidade e os que não a têm; os que têm smartphones com acesso permanente às redes digitais, e os que…
Todavia, essa mesma escola de massas pode contribuir para o atenuar da exclusão digital a que muitos alunos estariam votados se souber democratizar o acesso e a manipulação destes novos instrumentos educativos, organizando-se em torno de objectivos claros, de equipamentos acessíveis e de um corpo docente motivado informado e formado no uso das novas tecnologias da comunicação e da informação.
Importaria, porém, que esta promessa integradora não seguisse os passos da televisão quando, há umas décadas, prometia aos pais e educadores ser "uma janela diferenciada para um mundo melhor" oferecendo ao público uma programação voltada para a educação, quando sabemos que hoje a generalidade dos canais de TV são responsáveis por uma respeitável percentagem de iliteracia e de abstenção da participação cívica dos seus espectadores.
Sabemos, igualmente, que as novas tecnologias da comunicação e da informação podem introduzir mudanças significativas na tradicional separação de poderes dentro escola: quer na relação vertical do poder professor - aluno, quer, ainda, no poder baseado na descriminação do acesso aos saberes, através da democratização, ou não, do acesso a esses saberes, bem como aos tempos e às formas da sua aquisição.
Vivemos uma época social caracterizada por um sistema complexo-adaptativo. Assim caos, auto-organização e adaptabilidade são algumas palavras-chave para descrever este processo aparentemente contraditório que envolve a escola e os educadores. Talvez porque desde a queda do muro de Berlim o mundo ocidental já não esteja tanto dividido pelo peso das ideologias e os responsáveis governativos se apercebam que o eixo da divisão se deslocou para a análise dos indicadores que revelam o sucesso, ou não, da promoção educativa das populações, incluindo-se nesse objectivo o domínio e generalização das novas tecnologias.
Inclusão digital é, pois, imperativa para todos os cidadãos deste novo século se quisermos aceitar o desafio de assegurar que a Europa seja reconhecida como uma referência pela qualidade das suas instituições de educação e de formação, garantindo que homens e mulheres de todas as idades tenham acesso à aprendizagem e actualização ao longo da vida. Conviria então saber a quota-parte de responsabilidade de cada um de nós para que todos estes objectivos deixem de ser apenas encarados como ambiciosos, transformando-se, progressivamente em metas realistas.
Concordo
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