A crescente gravidade destes fenómenos, que não encontra paralelo em qualquer outro país europeu, deveria levar a repensar seriamente as estruturas e o modelo que ao longo destes anos foi criado para a prevenção e combate aos incêndios e a protecção das populações vítimas dos fogos.
Além dos terrenos florestais e agrícolas, das casas e dos automóveis ardidos, o último balanço, quando escrevo estas linhas, vai já em 41 mortos e cerca de 60 feridos. Isto é intolerável. Até quando terá de continuar a morrer gente, para que se perceba que não podemos deixar que estas tragédias, como parecia sugerir ontem o primeiro-ministro, passem a fazer parte do novo normal?
De facto, a protecção civil cresceu em cargos, responsabilidades e dinheiro para gastar. Houve jobs for the boys e também para gente experiente e competente. As câmaras viram as suas competências acrescidas a este nível, profissionalizaram-se bombeiros, investiu-se na formação, fizeram-se contratos milionários em torno de meios aéreos e outros equipamentos dispendiosos de combate ao fogo e num caprichoso sistema de comunicação de emergência que nas horas críticas deixa de funcionar. Mas o que se constata é que tudo isto falha clamorosamente de cada vez que temos um verão mais seco e prolongado.
Não se pede a quem coordena todas estas coisas que faça milagres, e sabemos que algumas situações extremas serão, pela sua natureza, incontroláveis. Contudo, o que se passou ontem nalgumas estradas portuguesas, por exemplo, parece demonstrar que se aprendeu muito pouco com o incêndio de Pedrógão.
Só por sorte não houve ontem à noite, no IP3, uma catástrofe ainda pior do que a de há quatro meses, quando vários automóveis e autocarros cheios de passageiros ficaram cercados pelas chamas.
A juntar a tudo isto, há declarações de governantes que são minimamente infelizes e que demonstram o desnorte completo e incompetência dos mesmos para lidar com estes tipo de situações.
É urgente que haja responsabilidades políticas! Depois deste ano, o combate aos incêndios e a proteção e ordenamento da floresta têm que tomar outro rumo, sob pena de voltar a suceder o esquecimento do assunto após a época de incêndios.
Impotentes perante o fogo, acabamos todos a pedir que chova!
Impotentes perante o fogo, acabamos todos a pedir que chova!
Adaptado de: Escola Portuguesa
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