quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Lágrimas Nacionais


Meu querido senhor, não o conheço mas atrevo-me a escrever-lhe estas palavras tão sentidas quanto esse olhar que a todos nos abraça! Choro ao escrever-lhe, sabia? Porque vejo nesse olhar um vazio total de esperança, a esperança que um dia, com o vosso suor, todos vocês, que trabalharam desde que começaram a andar, ofereceram às gerações vindouras, as mesmas gerações que hoje vos tratam como lixo! Choro, choro muito, porque sei quão isolados e abandonados vocês vivem, como se fossem lixo que envergonha os engravatados que nunca trabalharam seriamente na vida! Choro, porque sei que muitos de vós morrem entre suspiros de lamentos e gritos de socorro, sem que nenhum de nós vos tente sequer ouvir! Choro, porque o que hoje ficou queimado não foi apenas os lares simples que vos protegiam da chuva, o que hoje ficou a descoberto foi o horror social em que milhões de vocês, no Interior, vivem diariamente! Choro, porque sei que muitos de vós jamais tiveram um dia de férias, cultivando solos debaixo de sol, chuva e até granizo, tratando de animais que nos alimentavam no dia a dia, tratando da Terra como quem trata de um filho, a mesma Terra que hoje vos utiliza para gritar ao mundo que está com pena do que vos aconteceu! Como é possível não chorar perante a ternura de um olhar vazio de vida!? Como é possível não chorar perante a simplicidade de uma camisa suja que deveria cobrir de vergonha quem se apresenta de gravata e em viaturas que custam mais do que a construção de uma casa? Como português que nasceu nos tempos "modernos", que usa e abusa dos luxos construídos com o dinheiro do vosso suor, não posso deixar de, a chorar, vos pedir perdão! Desculpem! Perdoem-nos por todo o mal que vos estamos a fazer! Desculpem a nossa apatia perante tudo isto! Perdão! Mil vezes vezes perdão! Um país justo e de pessoas de bem jamais vos abandonaria à vossa sorte! Poderia aqui dizer que vossemecês deveriam ser mais pró-activos, mas isso seria não ter vergolha alguma perante quem trabalhou uma vida inteira e, de idade já avançada, merecia muito mais que respeito, merecia consideração, dedicação e paixão. Desculpe-me meu rico senhor, em meu nome, em nome de um país que amo porque vocês mo fizeram amar, mas não este país que nos querem impingir, um país sem valores, sem respeito e sem amor por quem tanto deu à pátria de todos nós. Perdão meu rico senhor! Como eu gostaria de o conhecer, abraçar e ouvir, e dar um pouco de mim para o confortar. Que a vida nos junte, é o meu desejo.

Soube agora que o Sr. Francisco faz hoje 82 anos.
Do fundo do coração, em nome do meio milhão de pessoas que hoje segue a página Aldeias de Portugal:
PARABÉNS SR. FRANCISCO.

Texto: Paulo Costa (Retirado do Facebook - Aldeias de Portugal)
Foto: Adriano Miranda - Jornal Público

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