sábado, 19 de maio de 2018

A Opinião do Prof-Folio: Viagem ao planeta Hara-Clin! (I)

Nestes últimos dias fomos "convidados" a fazer uma viagem ao planeta Hara-Clin!



Este Planeta fica muito distante da Terra. Foi uma viagem "sem ajudas de custo" e isto porque nesse Planeta existe dinheiro a rodos para distribuir por alguns setores, mas não há para a classe dos Professores. Para alguns, viajar, ainda que vivam no local de destino, têm direito a ajudas de custo pagas pelos contribuintes! Para outros não há dinheiro para pagar ajudas de custo nas deslocações que fazem no dia-a-dia, onde gastam combustível, pneus e vão com o carro à oficina, ao serviço da Escola Pública, mas há dinheiro para pagar a imensos motoristas e comprar carros de alta cilindrada para transportarem os governantes, e todos os titulares de cargos de chefia. Não há dinheiro para pagar aos membros do Secretariado, "Pivots" e classificadores de Provas de Aferição e Exames!

Naquele lugar distante houve Provas de Aferição de Expressões!

As Provas de Aferição foram decretadas pelo Governo daquele planeta, após ter extinguido os exames ao quarto ano, sob o argumento de que os alunos com aquela idade iriam ficar traumatizados. Ao invés desses exames, resolveram instituir novamente Provas de Aferição no segundo ano de escolaridade!

Será que as crianças dessa idade não iriam ficar traumatizadas?

As turmas das várias Escolas do Agrupamento de Escolas de Haracosul estavam "entusiasmadíssimas" com a chegada das provas de Expressões e "expetantes" para a realização da mesma. Como eram atividades que realizavam com frequência durante todo o ano letivo, para além de entusiasmadas estavam serenas!

Neste Agrupamento continua a funcionar a monodocência no 1º Ciclo, o que faz com que os professores titulares de turma andem sobrecarregados de trabalho. Para além das várias matérias curriculares que têm que lecionar para cumprir os Programas e as Metas estabelecidas, têm turmas enormes com muitos alunos com dificuldades de aprendizagem. A indisciplina e a má educação são também uma constante no dia-a-dia, reflexo da implementação da "Escola a Tempo Inteiro"!


Devido a esse sistema que já vigora há imensos anos, os alunos chegam ao fim do dia muito cansados, tal como os seus pais, que, por isso, não conseguem ter algum tempo para "cultivar" a vida em Família.

No entanto, no Agrupamento de Escolas de Haracosul, há uma Escola com boas condições de funcionamento, onde todos esses alunos poderiam ter aulas com turmas perfeitamente dimensionadas e com inúmeros recursos físicos e materiais, dos quais, todos esses alunos poderiam usufruir, permitindo assim que tivessem um desenvolvimento mais harmonioso e adequado à sua idade.

Para efetuar as provas com algumas turmas, umas de 24, 25 ou 26 alunos foram necessárias quase 3 h para a conclusão da prova de expressões artísticas de cada uma delas! Já as restantes turmas com número de alunos bem mais reduzidos, também o tempo previsto foi ultrapassado.

O governo de Hara-Clin quer aferir e não consegue prever o tempo necessário para a realização destas provas? Será possível que uma equipa que passou um ano inteiro a conceber estas provas, não conseguiu prever o descalabro em termos de realização das mesmas?

A implementação das Provas de Aferição nos segundos, quintos e oitavos anos de escolaridade obriga cada Agrupamento de Escolas daquele planeta a uma grande movimentação de meios e recursos humanos durante a atividade letiva.

O processo arrasta-se por um período que se inicia no dia 2 de maio e termina no dia 12 de junho, tendo em conta que a “avaliação das aprendizagens”, nas áreas com componente prática, Expressões Artísticas e Físico-Motoras, EV/ET, EF, EM e EV, se realiza no calendário escolar do planeta.

A nomeação de professores para a aplicação e classificação das Provas, bem como a preparação de material e espaços para a sua realização interfere no regular funcionamento das escolas e leva à perda de aulas previstas nos diferentes anos de escolaridade.

Os próprios Agrupamentos são afetados na sua liquidez financeira, nomeadamente na quantidade astronómica de papel gasto, compra de materiais, não sendo previsível qualquer verba adicional. Já as comunicações ficam, a maior parte delas a cargo dos Professores aplicadores, pivots e classificadores.

A forma como os resultados são dados a conhecer não permite a leitura e a apreensão fáceis das dificuldades a diagnosticar, pelo que não identifica as atuações desejáveis à melhoria do processo de ensino-aprendizagem.

Em Hara-Clin, a aplicação das referidas Provas de Aferição perturba a prossecução dos objetivos de aprendizagem e o funcionamento das escolas, pela interrupção das aulas dos outros anos de escolaridade e pela redução do período letivo previamente definido que nalguns é indispensável ao cumprimento de programas e metas curriculares.
A aplicação das provas de Aferição naquele planeta levanta ainda questões no que respeita à aferição dos resultados.

Será que são idênticas para todos os alunos que as realizam num determinado período?

Parece-nos que os alunos que as realizam no primeiro dia não estão em pé de igualdade com os que as realizam depois, simplesmente porque os primeiros desconheciam a versão da prova.

Além do exposto, a transmissão dos resultados das Provas de Aferição, a reflexão e suas conclusões representa para os docentes um trabalho longo e inglório nomeadamente pelo fato da comunicação dos resultados obtidos por aluno em cada prova ficar à responsabilidade dos Diretores dos Agrupamentos de Hara-Clin!

Os Professores Titulares de Turma e os Diretores de Turma, deverão comunicar os resultados obtidos individualmente a cada um dos Encarregados de Educação, no primeiro período do próximo ano letivo.

Deverá cada um dos Professores referidos, consultar os resultados de todos os seus alunos questão a questão, deverá identificar as dificuldades de cada um e tirar as conclusões no sentido de planificar a sua atuação para ano letivo que se irá iniciar, mas normalmente esses resultados só costumam estar disponíveis cerca de um mês depois de se iniciarem as aulas, o que, obviamente torna impraticável o referido anteriormente.

Para além disso e ao mesmo tempo, o Governo de Hara-Clin quer implementar nas suas Escolas e Agrupamentos a Flexibilização Curricular já no próximo ano letivo.

No Agrupamento de Escolas de Haracosul, devido à realização das Provas de Aferição, ainda não foi possível debater a Flexibilização Curricular, embora esse debate já tivesse sido prometido há muito.

Conclusão

A viagem ao planeta Hara-Clin leva-nos a concluir que a maioria, se não todos os docentes, manifesta discordância a todo este processo, sendo infrutífero para o processo ensino/aprendizagem dos alunos, prejudicial ao funcionamento das escolas e Agrupamentos, lesivo do trabalho dos professores.

É justo que nos questionemos quanto à insistência em manter um processo que não reconhece a sua eficácia no presente formato, nem contribui para a dignidade dos Professores e Alunos envolvidos.

António Craveiro

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