quarta-feira, 27 de março de 2013

Carta aberta ao novo presidente


Bruno,
permite-me que assim te trate, nesta que é a minha forma de dar-te boas-vindas à presidência do nosso Sporting.

Começa hoje, oficialmente, a materializar-se o teu sonho de criança. Tal como há dois anos tens a preferência da maioria dos sócios e, olhando para os números, já não são apenas os sócios mais novos a confiarem-te os destinos do clube. É verdade que foi preciso bater no fundo, para milhares de Leões perceberem que não podíamos continuar reféns de um tipo de gestão despida de sentimento, mas, como costuma dizer-se, vale mais tarde do que nunca.

E é precisamente do fundo que vais começar. O Leão, que aprendemos a amar, chega-te às mãos mais enfraquecido, dorido, cambaleante e endividado do que alguma vez nos recordamos de ter visto. E com uma oposição mais perigosa do que nunca, feita de gente que viu escapar-lhe por entre os dedos o poder instituído; de gente que teme ver a sua péssima gestão desmascarada por uma real auditoria; de gente que fez do nosso Sporting o Sporting deles e que quis calar a voz dos sócios; de gente que apela à união enquanto afia facas e procura espetá-las antes mesmo de deixar-te tomar posse.

É um desafio do cacete, pois que é, mas até por aí, creio, faz sentido a presença de uma pessoa como tu. Aquele «é nosso outra vez!» é, mais do que um grito de conquista, um grito de revolta. Teu e nosso. É um respirar, depois de tantos minutos submersos que os nossos pulmões ameaçavam rebentar. É o desarmar o colete de força que nos indiciava como loucos, por pedirmos um Sporting com emoção, com sangue quente, longe das mesas de reuniões onde, por entre um criquete e uma combinação de tacadas ou raquetadas, se traçava o destino de um clube cada vez mais empresa. É, em última análise, o rugir de um Leão farto de ser estrela de circo. E de obedecer às ordens de domadores pedantes, confiantes que a aritmética lhes confere a capacidade de afrouxar um animal que nasceu não para temer, mas para ser temido.

Cabe-te, agora, fazer-nos acreditar que é esse Leão que vai reerguer-se. Que é ao lado desse Leão que vamos caminhar, como exército verde e branco saído de uma inapagável porta 10-A. A mesma porta que faz parte das tuas memórias, tal como a “Nave”, as meninas da rítmica, os jogos sem speakers, as camisolas de malha às riscas tricotadas pela avó ou o campo de treinos, ali ao lado. Espero que nunca te esqueças que, tal como nós que aqui escrevemos neste Cacifo a verde e branco pintado, desse teu passado. Desse nosso passado que, nos últimos anos, foi remetido para uma caixa sem cor e etiquetado com um “utilizar pouco e apenas quando der jeito”. Acontece que nós somos esse passado. E, agora que tens nas tuas mãos o nosso presente, nunca te esqueças que é nessas memórias que poderás encontrar a força que nos unirá rumo ao futuro, ensombrando adversários, externos ou internos, e deixando pelo mundo a marca Sporting Clube de Portugal.

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