domingo, 8 de setembro de 2013

Bombeiros portugueses...


«É impossível ir ao mar em Setembro sem pensar nos bombeiros portugueses. Não só nos que morreram e ficaram feridos como em todos os que arriscam a vida.

Não consigo imaginar o que é arriscar a morte para ajudar e salvar os outros: a vida dos outros, a saúde dos outros, as casas dos outros. Todos os bombeiros que morreram e que foram feridos - e todos aqueles que hão-de morrer e ser feridos estariam de boa saúde se tivessem agido como todos os seres humanos e pensado, acima de tudo, na própria segurança. Isto não é egoísmo - é apenas agir segundo os interesses de cada um. É assim que sobrevivemos. A autopreservação está-nos na massa do sangue.

Os bombeiros escolhem lutar, antes de lutarem contra qualquer incêndio, contra o instinto de autopreservação que os defenderia. Para proteger a quase totalidade de cidadãos que segue sensatamente esse mesmo instinto, os bombeiros ultrapassam-no. Ao arriscar a vida, agem irracionalmente: tornam-se altruístas heroicos.

Se não consigo imaginar a generosidade louca dos bombeiros posso recorrer ao testemunho dos próprios bombeiros, sempre perto de nós. O que é inimaginável, incompreensível é a ingratidão do Estado português. E até da população.

Os bombeiros têm de ser tratados e pagos como heróis públicos. Já que arriscam as vidas para salvar as nossas, têm de viver melhor do que nós e com constante reconhecimento.

Mete nojo a nossa psicopática indiferença: elas e eles são melhores do que nós.»

Fonte: Miguel Esteves Cardoso, Os Heróis públicos, Público, 04-09-2013

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