domingo, 26 de dezembro de 2021

6 dias, 6 propostas


1. Visita
Ílhavo
Museu Marítimo
Domingo, 26 de dezembro

É domingo. O Natal foi ontem sem que a pandemia se dissipasse. Uma ritualística visita a Ílhavo, terra natal, simbolicamente dirigida aos fisicamente ausentes, com epílogo orientado para o seu Museu Marítimo. Não a primeira, nem, assim o esperamos, a última visita. Mas intencional para memorizar e contemplar (com um esgar crítico à luz da uma atualizada leitura retrospetiva), de vivências de infância, de representações afetivas e até de aromas - à volta da pesca e dos navios de pesca do bacalhau. Nos museus, as atividades humanas direta ou indiretamente aí representadas têm zonas de luz e zonas de penumbra que a ronda interpretativa deverá saber cotejar. Nesta visita deve também ser particularmente assim.


2. Livros
A história da filosofia de Will Durant
Acompanhado pelo espumante Quinta dos Abibes
Segunda feira, 27 de dezembro

O tempo atmosférico anuncia-se adverso a saídas. O périplo será, pois, introspetivo. Uma passagem pelos livros por ler, a que se somaram alguns recém-chegados e que incluem a recentemente lançada (2021) tradução de A História da Filosofia de Will Durant, prenda de Natal de uma amizade telúrica. Tal como aí se prefacia, "por último temos os poucos cujo prazer reside na meditação e na compreensão; que anseiam não por bens, nem pela vitória, mas pelo conhecimento que deixam ...". Leitura a começar e a terminar em casa, com "roupa velha" e espumante Quinta dos Abibes, reserva, ao jantar, naturalmente!


3. Museu
Sangalhos
Museu das Duas Rodas
Terça-feira, 28 de dezembro

Semana de férias da universidade, permitindo, até o final do ano, atualizar configurações que, simultaneamente, deram forma e conteúdo a trajetos de vida que já ultrapassam 60 anos. Repartindo a vida entre a academia e a vitivinicultura, é dia de rumar a Anadia. O percurso obriga a olhar Sangalhos e, logo aí, na fímbria da passagem, a recordação das celebérrimas e heroicas voltas a Portugal em bicicleta, cujo profundo significado autóctone não se esvaiu na névoa dos dias, permanecendo vivo e atual no Museu das Duas Rodas. E porque as duas rodas não morrem nas "pasteleiras", os veículos motorizados tiveram uma proficiente indústria e... heróis do motocrosse! No velódromo - Centro de Alto Rendimento, também obra arquitetónica magnífica, de visita recomendada.


4. Hotel
Curia
Acompanhado por um périplo pela zona da Bairrada
Quarta-feira, 29 de dezembro.

A pernoita tem, na Curia, o lazer que dá saúde. Nas termas. No seu hotel. Nos jardins. A Curia é uma iniciação à intemporalidade que nos consegue projetar para o universo que cada um é, mas, por vezes, tarda em descobrir. Espaço que é uma cadeia de união de sucessivos apelos à simplificação do que tornamos desnecessariamente difícil, apenas porque é simples e bela. É, também, uma forma diferente e diferenciada de iniciar um périplo pela Bairrada através do seu emblemático concelho de Anadia. De caminhar percebendo as espécies que nos dão espécie e, por fim, pensar na inultrapassável vantagem que o contacto sensorial e sensitivo com a natureza possui: não é digitalizável!


5. Comer
Leitão
Bairrada
Sexta-feira, 31 de dezembro

Como de há muito apregoo, o que faz de um qualquer número de pérolas um colar é o fio que as une. Assim é um ano, cujo último dia ficou reservado para fechar o colar com a fabulosa gastronomia que me acompanha nesta viagem natalícia e bairradina de Ílhavo até Anadia e de Anadia até Coimbra. Paramos no leitão. No leitão assado à Bairrada. Na múltipla e mágica oferta de paragem obrigatória. A amesentação (termo imortal do imortal José Quitério) terá de ser cuidada, deve incluir os "miúdos" - prefiro em arroz pardo e malandro - à entrada, e o majestoso "reco" de raça, peso e idade próprias para o efeito, em assadura executada por especialista que não descure o molho, e com "cortadura" de impecável recorte técnico cirúrgico. É que uma má "trinchadura" pode estragar um excelente leitão. E é agora, à mesa com fumegantes pedaços e aromáticas libações, que a minha acompanhante opção se firma: batata cozida com a "pele"! No mais, remanesço com um Quinta dos Abibes Sublime Espumante Brut Nature, colheita de 2011 e dégorgement de 2019.


6. Passeio
Coimbra
Universidade e velha alta da cidade
Sábado, 1 de janeiro

De regresso a Coimbra. À minha universidade. Muito poucas reúnem as características e os atributos de que a Universidade de Coimbra se pode orgulhar. História, património, cultura, investigação, ciência, modernidade e multiculturalidade. Atualmente com os seus três polos e firmada produção científica, mantém e preserva locais de visita e de conhecimento obrigatórios que não apenas refletem mas vivificam a compreensão de Portugal, da lusofonia e do mundo. Iniciar o ano, num dia tradicionalmente calmo, sem o bulício comprometedor dos movimentos e dos percursos, com uma caminhada pela velha Alta coimbrã, circundando a universidade e o património artístico adjacente, constitui um exercício de frescura, de alento e de reflexão, bem como um afetuoso lenitivo para domar algumas mais agrestes vicissitudes da vida.

Fonte: Francisco Batel Marques in DN

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