Realizado por Ruben Fleischer
Com Josh Brolin, Ryan Gosling, Sean Penn, Emma Stone
Os filmes de gangsters têm uma tradição muito forte em Hollywood. Pautados por sedutores elementos de noir e por um classicismo muito próprio, geralmente são filmes que se levam muito a sério e que se destacam pela narrativa sóbria, não entrando em grandes espalhafatos e cultivando um certo glamour nas suas escolhas visuais e auditivas. “Gangster Squad”, porém, corta um pouco com esse classicismo e opta por uma via mais descontraída e divertida, afastando-se do thriller noir e assentando bases na aventura de ação que não deve ser levada muito a sério. Apesar de ser inspirado em factos reais, “Gangster Squad” não aborda os confrontos de Mickey Cohen com as autoridades de uma forma propriamente contida e realista. Quase como se fosse uma história de super-heróis retirada de uma banda-desenhada, diverte-se à fartazana na altura de puxar o gatilho e desenvolve o enredo com um sentimento de diversão sempre apurado, apresentando um vilão que facilmente rivaliza com qualquer antagonista malvado das aventuras aos quadradinhos e um conjunto de heróis que não prima pela discrição dos seus atos. Resultado desta abordagem indiscutivelmente mais leve e surreal? “Gangster Squad” não é mau e entretém quanto baste, mas torna-se inevitavelmente inconsequente e não deixa a marca que devia deixar no espectador mais expectante.
A ação centra-se na Los Angeles de finais dos anos 40. Após uma carreira de pugilista em que ganhou notoriedade pela sua força bruta e ambição sem limites, Mickey Cohen (Sean Penn) instala-se em L.A. e rapidamente se torna o barão do crime, o chefe da máfia que se mantém intocável através de subornos e que controla tudo e todos. Comprada e vencida, a polícia pouco ou nada lhe faz frente, limitando-se a observar enquanto Cohen estende os seus tentáculos corruptos por toda a cidade. O Sargento John O’Mara (Josh Brolin) é um dos poucos que se recusa a prestar-lhe vassalagem, fazendo detenções em locais que outros consideram restritos e distribuindo galhetas pelos grupos de mafiosos a quem as forças de autoridade fazem vista grossa. Ciente de que O’Mara é um dos poucos com quem ainda pode contar, o Chefe Parker (Nick Nolte) ordena-lhe a destruição de Cohen e do seu bando, numa última tentativa de recuperar o coração de Los Angeles das mãos do mafioso. E O’Mara depressa mete mãos à obra, reunindo um grupo de agentes duros e problemáticos que não hesita no momento de declarar guerra ao poderoso barão do crime. Inicia-se então um confronto decisivo pela própria alma de Los Angeles. Mas será que O’Mara e os seus colegas têm o que é preciso para saírem vencedores desse confronto?
“Gangster Squad” e “The Untouchables” têm muitas semelhanças, sobretudo a nível das suas narrativas. Mas ao passo que o clássico de 1987 encarava o confronto de um grupo de agentes destemidos com os capangas de Al Capone de uma forma digna e sisuda, o light gangster movie de Ruben Fleischer aborda a luta com Mickey Cohen como se se tratasse das aventuras do Homem-Aranha, o que não abona a favor da película. Esta análise pode parecer estranha e até inteiramente descabida, já que Josh Brolin não anda propriamente a disparar teias pelas ruas de Los Angeles. Mas se analisarmos a frio a estrutura deste “Gangster Squad”, chegamos à conclusão de que o seu espírito está muito próximo das aventuras recentes de qualquer super-herói. Pois vejamos: o Mickey Cohen de Sean Penn é interessante e fica na retina (sendo até o melhor que o filme tem para oferecer), mas é tão vilanesco que quase se torna surreal, fazendo frente a qualquer mestre do mal dos livros aos quadradinhos; a banda-sonora de Steve Jablonsky também não ajuda, pois é demasiado heroica e espalhafatosa, não possuindo o charme e o glamour que as melodias destes filmes costumam apresentar; e a nível de argumento, o voice-off constante de Josh Brolin faz lembrar os pensamentos privados do Peter Parker de Tobey Maguire, não faltando sequer o monólogo final em que só lhe falta revelar que é o Homem-Aranha. É muito por causa destes fatores que “Gangster Squad” acaba por fracassar. Não é um mau filme, pois acompanha-se com agrado e o divertimento está garantido até ao final. Mas o argumento toma algumas direções dúbias e o próprio Fleischer não consegue fugir a alguns clichés perfeitamente evitáveis. Percebe-se que Fleischer quis fazer algo de diferente com este material, e até certo ponto essa frescura é salutar. Mas talvez a aura de puro divertimento simplesmente não encaixe numa obra destas características.
Fonte: Portal Cinema
Sem comentários:
Enviar um comentário