quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

A Ciência do Prof-Folio: Desafios da Ciência em 2022

James Webb Telescope

Em ciência, para cada questão respondida, abrem-se logo outras que pedem resposta. Entramos no ano de 2022 com várias questões por responder. E temos esperança de que, se não forem respondidas neste ano, sê-lo-ão nos seguintes. O sábio português Garcia da Orta afirmou, no século XVI, que «o que não sabemos hoje, amanhã saberemos».

Algumas descobertas são inesperadas. Mas outras são o resultado de cuidadosos planeamentos e prolongados esforços. Ofereço aqui uma lista de desafios da ciência nos quais, pelo que está planeado, haverá avanços a curto prazo. Privilegiei as descobertas da Física ou relacionadas e dentro destas, por serem mais mediáticas, as que têm a ver com o espaço. Mas a biomedicina é um vasto campo onde vai continuar a haver progressos tremendos.

A NASA vai encher-nos de notícias. O telescópio espacial James Webb, da NASA e da ESA, o maior de sempre, começará a enviar as suas imagens do Universo em Junho próximo. O telescópio, que já abriu completamente, está em rota para a sua posição em órbita solar. Será descoberta a luz das primeiras estrelas e serão descobertos novos exoplanetas, com boa probabilidade alguns deles parecidos com a Terra. Em 24 de Setembro, culminará a missão da NASA Double Asteroide Redirecion Test: uma sonda foi planeada para embater num pequeno asteróide, para nos ensinar sobre a possibilidade de desviar um asteróide da sua trajectória, se acaso viermos a descobrir um a aproximar-se perigosamente da Terra. A NASA vai ainda, em breve, testar um novo foguetão, o Space Launch System, que colocará num voo a nave Oríon, não tripulada, preparando o regresso de astronautas na Lua a partir de 2025. Embora seja mais tecnologia que ciência, os operadores privados americanos continuarão a desenvolver as suas actividades no espaço, como a SpaceX de Elon Musk, que testará o seu novo foguetão Starship.

Em Setembro partirá para Marte a missão europeia ExoMars 2022, da ESA, em colaboração com a Rússia, que colocará um rover a Marte, baptizado de Rosalind Franklin, em honra da pioneira da bioquímica, que vai fazer companhia ao americano Preseverance (com o helicóptero Ingenuity) e ao chinês Zhurong. O objectivo é detectar vida passada em Marte.

Na astrofísica, grande novidade será a entrada em funcionamento, no Chile, do Observatório Vera Rubin, que vai «varrer» o espaço como nunca antes foi feito. Por outro lado, depois de uma pausa para melhorias, a colaboração LIGO - Virgo entre os Estados Unidos e a Europa, para detectar ondas gravitacionais retomou recentemente a actividade: o seu fim é registar novas colisões de buracos negros ou estrelas de neutrões. Para além do James Webb, haverá mais novidades sobre exoplanetas. Acaba de ser anunciado um com a forma de uma bola de râguebi. Há cada vez mais evidências de luas de exoplanetas. E há indícios de planetas fora da nossa galáxia, que aguardam confirmação.

No CERN, na Suíça, o Large Hadron Collider, depois de três anos de paragem técnica e de um atraso causado pela pandemia, voltará, a partir de Maio, a operar, a maior energia. Para além de mais medidas da partícula de Higgs, os físicos de partículas procuram novas partículas. Uma grande descoberta seria a detecção de algo que pudesse explicar a matéria negra, um misterioso constituinte do Universo. Existem várias experiências específicas para procura de matéria negra e, em Maio, haverá no Dubai uma conferência internacional sobre o tema.

Mas há muito mais ciência para além do espaço e das partículas. Dou apenas alguns exemplos:

  • Não sabemos bem o futuro da COVID-19, mas sabemos que as vacinas foram um enorme êxito. Alguns especialistas esperam que a pandemia se transforme em endemia, com um número baixo de vítimas. Deve haver melhorias nas vacinas e nos antivirais. É muito provável que as novas vacinas, baseadas na genómica, encontrem outras áreas de aplicação.

  • Neste ano sairá o 6.º relatório do IPCC, o Painel Internacional para as Mudanças Climáticas, que são o maior desafio da Humanidade nas próximas décadas. As conclusões da COP26 em Glasgow poderiam ter sido mais assertivas, mas segue-se a COP27, que terá lugar no Egipto em Novembro de 2022. Os avanços em energias alternativas continuam.

  • A descoberta do ano de 2021, segundo a revista Science, foi um trabalho sobre os modos de enrolamento de proteínas realizada por um poderoso sistema de inteligência artificial (IA), que abre a porta ao fabrico de novos fármacos. A IA estará cada vez mais não só na ciência como nas nossas vidas e cada vez mais vai será necessária a consideração de aspectos éticos.

  • Na área da computação quântica, tem sido reclamada a «supremacia quântica», o ponto em que os computadores quânticos ultrapassam os convencionais. Várias empresas, como a IBM e a Google, estão a competir nesse domínio. Mas há também avanços chineses, um país que já ultrapassou os Estados Unidos em número de artigos científicos. Haverá em Julho próximo uma conferência internacional sobre computação quântica em Lisboa.

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