Deu por ele a pensar na forma como todos, sim todos, gostam tanto do seu umbigo. Venham de lá os mais altruístas ou outros capazes de beneficência sem entraves para nos depararmos com o vírus que nos mina a existência e aí é que são elas. A vacina é minha e não a dou a ninguém. Se a queres tens de pagar, diz o dono da patente pouco se importando com muita gente.
Tanta gente que morre. Já não bastava a pobreza extrema, a fome e a degradação dos termos de troca, entre outros múltiplos aspetos, para acrescentar esta problemática que contribui para o aparecimento de novas variantes enquanto a vacinação não se estender aos carentes e esquecidos, aqueles que são tratados como o lixo da humanidade.
Vai daí, poder ser vacinado e não o querer, apesar de legítimo, encaminha as mais nobres almas para uma ação de incredibilidade perante a negação. Daqui à obrigatoriedade da inoculação vai um pequeno passo. Na Europa a pandemia vai de vento em popa e o pico ainda não foi atingido.
Por cá e antes de 1974 havia remédio santo. O fascismo impunha, obrigava e tudo se acabava. Imagino o que seria, um polícia em cada esquina. A verdade é que ainda hoje, em democracia, andamos como carneirinhos ao sabor das demandas de quem diz que sabe mas a realidade é bem diferente. As incongruências falam mais alto. Gritam e ninguém as ouve.
Recuemos. Naquele tempo a escola é que era. Na altura em que rapazes e raparigas não se misturavam. Recordar a primeira turma mista é um exercício de nostalgia impagável. Hoje há quem defenda uma nova separação, seria o regresso ao passado. É que elas e eles têm processos de aprendizagem diferentes, dizem. Nunca avançou a teoria, caiu de madura a ditadura.
Entretanto, nestes idos de sessenta, no recreio dos rapazes jogava-se futebol transformado numa espécie de brutebol aos chutos a uma garrafa de óleo cheia de terra barrenta com pequenas pedras que faziam doer os joelhos se por acaso os moços se espalhassem ao comprido. Hoje nada é assim e os putos nem a cambalhota conseguem dar. O que dizer?
Até para entrar nas salas de aula, dois a dois, em fila para bater os pés num tapete de ripas de madeira e ali se quedarem uns bons quilos daquele barro avermelhado. Se te atrasavas à chamada ainda eras brindado com umas pancadinhas nas orelhas, batidas vindas daquela cana da Índia que o professor escondia atrás da porta. Só de vê-la arrepiava. Era isso e o tratamento à base de palmadas de régua fria, de madeira escura, batida pelo tempo, guardadora de todos os ais desde o passado longínquo até ao presente, tantos foram os anos que serviu esse propósito. Calças coçadas nas coxas depois de muito se esfregarem as mãos antes de cada sessão de correção de ditados. Cada erro, cada palmatoada. De palmatória. Mas, mau mesmo era a temível "menina dos cinco olhos". Uma régua composta por um cabo comprido que entrava num pedaço de madeira redondo e grosso. Depois apresentava cinco buraquinhos, os olhos da menina, por onde era expelido o ar depois de comprimida contra as mãozitas dos petizes. Entre os seis e os dez anos de idade, todos os putos portugueses antes do 25 de Abril passaram por esse crivo de educação ancestral, capaz de fazer trabalhar o mais preguiçoso dos seres.
Não se incomodem que hoje não somos apologistas desta educação de arrancar dores, suspiros e ai que me dói tanto. É o amor que faz falta. Mas cuidado! A educação, o civismo, o culto do esforço para alcançar resultados positivos, a aceção de uma personalidade construída, cimentada e transmitida com carisma, faz toda a diferença. O lápis azul não. Esse não!
Também a escola terá de se adaptar aos novos tempos e já leva anos de atraso. A escola a tempo inteiro é uma falácia. A escola prisão, a escola que os adultos querem e precisam para ilibarem responsabilidades na educação dos discentes, filhos, enteados ou parentes, é aquela que os miúdos não querem e a sociedade não se reinventa. Agradecem os patrões, evidentemente. Mão de obra a tempo inteiro, a tinta no tinteiro e a carteira com pouco dinheiro. Venha agora a semana dos quatro dias. Isso sim.
Tudo desarticulado, senhores. E os professores que fazem de tudo, os teóricos aplaudem e quem bem pensa deveria dizer chega, dispenso, quero fazer a minha profissão e não uma amálgama de saberes, unidos com cola de farinha feita, e os outros de costas direitas.
E as vacinas? Retomemos. Somos dos melhores do mundo e não estamos a aproveitar esta bondade, sapiência e organização de todos os que se vacinam e são cumpridores. Noventa por cento de inoculados e a dose de reforço em andamento de cruzeiro para andarmos cheios de medo. E já se fala da quarta dose. Afirme-se a endemia, já basta de mordomias.
Ai as eleições. E os confinados? Na altura de decidir, o presidente marcou, está marcado. De entre os argumentos apresentados, nem um a pensar na pandemia. Preocupação bastante apenas para tomar posição equidistante aos interesses políticos em jogo. Agora é que são elas. Tudo somado e um magote de contradições que ninguém percebe nem querem perceber. E os pobres do mundo sem vacinas e a beneficência é só para testar a paciência. Que vida.
Venha de lá mais um ato de democracia coxa com abstenção a atingir valores nunca antes vistos. Procure-se outro almirante, pode ser que se resolva o caso de rompante. E a escola é coxa, a democracia coaxa e a farmácia relaxa.
Ninguém aprende, é chalaça e a vida entre paredes um mar de lama sem vislumbre de temperança.
Urge atuar de imediato. O povo é manso e o político dá de barato. Tristeza. Pobreza. Mar de sonhos desfeitos e nunca mais seremos perfeitos.
Fonte: Facebook
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