terça-feira, 23 de julho de 2013

Os Verdadeiros e Legítimos Reaccionários


A propósito de toda esta situação vivida nestes últimos dias, o Banda Larga e o Corta-Fitas publicam dois textos com os quais concordo inteiramente...

Conhecido o grau de irresponsabilidade daquilo a que o Partido Socialista chama «propostas alternativas», foi José Gomes Ferreira quem (perante o incontido desconforto de António José Teixeira, que logo convidaria Seguro para uma entrevista) as explicou melhor, na Sic: o PS defendia cortes de apenas 2 mil milhões; seguidos de aumento de despesa e diminuição de receita de 2 mil milhões (mediante coisas como a subida de salários, a reposição das pensões, o congelamento das saídas na função pública, o abaixamento do IVA da restauração). Ou seja, o PS quereria governar como se houvesse dinheiro, como se não estivéssemos ainda a pagar penosamente as consequências do desgoverno socialista, como se não estivessemos mergulhados num gravíssimo problema de défice e dívida.
A explicação de Gomes Ferreira é, além, de verdadeira, claríssima. Terá sido por isso que nenhum outro jornalista repegou nela, preferindo ouvir sucessivamente um partido e outro, fingindo que a responsabilidade pelo fracasso do acordo de emergência cabia a todos por igual. Nenhum quis fazer as contas que Gomes Ferreira fez, inquirir o PS sobre o valor das suas «alternativas», avaliar se elas seriam viáveis sem agravar o desastre. Preferem assim: estar distraídos, não fazerem contas, não saberem nada. Assim, já podem dizer que as acusações contra o PS são mera parte de um «jogo de ping pong de culpas».
Além de debilitar Seguro (mero agente transitório), o fracasso das negociações serviu para outra demonstração bem mais relevante: a de que o progresso do país só será feito contra o PS. O PS, hoje, não tem ideologia. Já não quer certamente a colectivização dos meios de produção. Quer apenas um cozinhado confuso de peso estatal aposto à iniciativa privada; de burocracia parasitária da actividade económica; de absorção de meios através do que chama «regulação»; de empresas públicas e monopólios disfarçados com máscaras de falsa concorrência; de fantasiosas «políticas de crescimento», que consistem, por um lado, no mesmo investimento público à Sócrates que nos trouxe com «dinamismo» à bancarrota, e, por outro, em intervenções «especiais» do Estado na economia, como os projectos PIN (verdadeira institucionalização da corrupção, que teria dado um escândalo em qualquer país civilizado); de «política para as pessoas» sem significado algum; de suposta «solidariedade» que só eles ministrariam, porque os socialistas se alucinam num pedestal de virtudes rodeados de gente vil, que são todos os que não pensam como eles; e de «cultura», que é para os socialistas uma arma de arremesso (se «fracturante», tanto melhor). 
Esse poderia ser, também, o programa socialista do confrangedor Hollande. A diferença é que Hollande é governo e, portanto, meteu o irrealismo na gaveta. Mas o nosso PS tem algo mais que os outros partidos socialistas têm menos: tem um Sócrates, um Alegre, um Soares. Tem, bem representada desta forma resumida, uma elite exclusivista e ávida de rendas, que se crê titular de todos os direitos e não tolera mudança alguma. São os mais genuínos reaccionários. Sem ideologia, hão-de sê-lo por razões privadas suas. Foram muito sonoros e claros durante as negociações do acordo de emergência nacional. Foi esclarecedor ouvi-los.


Soares, Alegre e Sócrates. Os verdadeiros reaccionários. Estão contra tudo o que possa mexer no Estado que é deles. Que controlam. Os negócios, as rendas, as PPP, as swaps, as empresas públicas... 
...a de que o progresso do país só será feito contra o PS. O PS, hoje, não tem ideologia. Já não quer certamente a colectivização dos meios de produção. Quer apenas um cozinhado confuso de peso estatal aposto à iniciativa privada; de burocracia parasitária da actividade económica; de absorção de meios através do que chama «regulação»; de empresas públicas e monopólios disfarçados com máscaras de falsa concorrência; de fantasiosas «políticas de crescimento», que consistem, por um lado, no mesmo investimento público à Sócrates que nos trouxe com «dinamismo» à bancarrota, e, por outro, em intervenções «especiais» do Estado na economia, como os projectos PIN (verdadeira institucionalização da corrupção, que teria dado um escândalo em qualquer país civilizado); de «política para as pessoas» sem significado algum; de suposta «solidariedade» que só eles ministrariam, porque os socialistas se alucinam num pedestal de virtudes rodeados de gente vil, que são todos os que não pensam como eles; e de «cultura», que é para os socialistas uma arma de arremesso (se «fracturante», tanto melhor). 
As propostas de Seguro com mais despesa pública são um hino à mentira e à irresponsabilidade !
P.S. (Post Scrptum e não PS!...)
Interessante um dos comentários ao primeiro dos textos (Corta-Fitas):

Um partido em que um bando de velhos com os pés para a cova mandam mais que a liderança em exercício não pode ser levar a sério. Quem tem sempre a democracia na boca que explique qual é o mandato democrático de Mário Soares para que este continue a ter tanta influência na política portuguesa. Isto é puro "feudalismo", porque ninguém vota nele, mas ele continua a mandar, e muito.  
Não é com os "pê-ésses" que Portugal dá a volta. Nem sequer com o (péssimo) edil de Lisboa em São Bento. O Passos Coelho pode ser insuficiente a comunicar, nomeadamente na referência que fez ao norte da Europa já não nos querer sustentar, porque as coisas não assim tão simplistas. O que se trata é que quem define o rumo da UE, e que é a Alemanha, não está mais disposta a financiar políticas redistributivas, que por sua vez caíam que nem ginjas nos interesses políticos de partidos como o PS. O ênfase da UE agora é a competitividade, precisamente porque a Europa perdeu estatuto mundial nas últimas décadas e tem de fazer pela vida para o recuperar, ou pelo menos manter o que tem. Se isso tem óbvios inconvenientes para os países mais débeis como Portugal, também não deixa de ser verdade que a nossa economia não podia continuar como estava, dependente do financiamento externo, mas ao mesmo tempo cada vez mais improdutiva.
Por isso a nossa resposta nunca pode advir de partidos que não aceitam nem entendem os novos tempos, pois vivem virados para o passado, para manter as suas regalias. Portugal tem de aceitar as novas condicionantes, mas alertar os seus parceiros para os seus problemas específicos, concretamente a sua situação social, que é ainda mais frágil que a da Grécia, porque aqui há mais desigualdade social e pobreza estrutural do que em qualquer país da UE 15. De nada adianta vociferar contra as actuais lideranças da Europa, porque não é (só) por elas que há menos disponibilidade para financiar políticas sociais na periferia, pois são os eleitorados dos países ricos que não as querem, dados eles próprios também terem menos desafogo financeiro. E os portugueses têm de entender de uma vez por todas que a "solidariedade" europeia não é eterna e tem condições. Para eles ser pobre não é uma condição, é uma situação. Portugal que não espere sempre apoios financeiros enquanto for um Estado necessitado. É bom que faça por deixar de o ser, ou algum dia deixa de ser "apoiado" de qualquer maneira.

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