quinta-feira, 30 de dezembro de 2021

A Filosoia do Pro-Folio (1) - Aviso por causa das coisas ou: Os homens sem cabeça

Se me cortassem a cabeça, a minha capacidade de pensar ficaria francamente diminuída.
Bertrand Russell


Da epígrafe roubada a esse gamin que dava pelo nome de Bertrand Russell, o qual, em co-autoria com Alfred North Whitehead, publicou o famoso PRINCIPIA MATHEMATICA, pode concluir-se que há toda a vantagem em conservarmos, pela vida fora, a cabeça com que nascemos. Uma sociedade de decapitados teria uma probabilidade diminuta de dar uma contribuição séria ao avanço da Filosofia e da Ciência.

Embora alguns chefes de regimes que se propuseram instalar o céu na Terra tenham preferido fazê-lo, cortando as cabeças a um aflitivo número de cidadãos recalcitrantes – logo, perigosos – também não é líquido que regimes de maior liberdade tenham sistematicamente produzido cidadãos que conservam intactas as suas cabeças. A verdade é que, como dizia Huxley, o acto de pensar é a excepção à regra de não pensar. Pensar pela sua própria cabeça, embora apoiado no esforço de pensadores antecedentes, exige trabalho e coragem. Dá muito mais fáceis dividendos ir com a corrente dominante e não causar ondas de inquietação. Em termos de carreira e de glória, chega-se lá mais facilmente, aceitando os dogmas em vigor, do que contrariando-os, quase sempre com sofrimento. Os frutos da terra caem mais provavelmente no colo dos conformistas. Ser Galileu não ajuda. Uma carreira universitária bem oleada não se faz, preferencialmente, com ideias originais, antes investigando afanosamente quais os evangelhos em vigor e seguindo-os com mansidão. O vigor de uma ideia que desarruma o statu quo incomoda os proprietários do saber, preferindo estes a devoção canina dos que seguem os caminhos já muito percorridos e confortavelmente acarinhados.

A surpresa desagradável é que esta glória conformista é fluentemente conseguida mas dura, de modo geral, muito pouco. Ao chato do Galileu chegaram quase a cortar-lhe a cabeça, mas, tendo ele insistido em conservá-la, com grande astúcia e engenho, a sua glória ficou para sempre e a dos seus perseguidores desapareceu. De Galileu, ficou o eternamente cintilante “E, contudo, move-se”, mais um punhado de leis que não esquecem, ao passo que, dos seus perseguidores, restou apenas o emblema infame: “Quot non fecerunt barbari fecerunt Barberini” (“O que não fizeram os bárbaros fizeram os Barberini”).

As nossas faculdades de letras estão cheias de dogmas inamovíveis, guardados religiosamente por guardiões determinados e rigorosamente sem cabeça, ansiosos, por sua vez, por cortar as cabeças dos refilões com o abominável hábito de pensarem por si e de declararem singelamente o que encontraram. Aqueles que gostam de encontrar o já encontrado e muito venerado têm uma glória rápida mas de curta duração. O parvo de cabeça teimosamente em cima dos ombros demora a saborear os frutos da glória, mas tem-na melhor assegurada e de muito maior duração.

Ninguém gosta tanto de cortar cabeças como aqueles que já há muito perderam a sua. Os decapitados odeiam ver as cabeças que lhes recordam as que já tiveram e de que abdicaram, a favor de um triunfo efémero. Porém, quando consentimos em que nos cortem a cabeça, é muito improvável que no-la devolvam. Ficarmos sem cabeça é um processo irreversível. Restará só uma glória aparente e um esquecimento garantido. A cabeça era, afinal, uma parte indispensável do equipamento e não o ter percebido a tempo foi um erro irreparável.

Aqui fica o aviso, por causa das coisas.

Eugénio Lisboa in De Rerum Natura

quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

A poesia do Prof-Folio (1) - Betty Blue


Incendia
Acorda
Vive
Emerge
Do mar egeu
Do bordel europeu
Esquece as ameaças
Rasga a mordaça
Dá-me a mão
E lancina de uma só vez
As últimas barreiras
De cobarde guerreiro
Da humanidade inteira

Excerto de O Insurgente, Betty Blue.

Fonte: Facebook

segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Crónicas (3) - José Manuel Pinto Sousa - Quase


Quase

Perante um obstáculo, uma dificuldade ou um semblante desanimado, triste e quase acabado, a verdade emerge. Ou mulher ou rato. Há que fazer uma escolha.
Se repararam na palavra "quase" escrita no primeiro parágrafo, posso dizer-vos que será fundamental no desenlace da ideia que aqui vos trago.
Mas afinal o que te dói, rapariga? Estás de cara à banda. Será fastio, enfado ou fado que singra? Era magra. Pachorrenta. Nunca ninguém a ouviu cantar. Nem no banho. Mas teimava que tinha uma sina danada, vinda não sabia de onde. Talvez um mau-olhado deitado por aquele animal estuporado com quem viveu mais de meia dezena de anos. Vade retro, seu assassino de almas. Ficava furibunda quando se lembrava dele, o Pinheiro.
Mas ela, a Josefa também tinha pelo na venta. A prima dela afiançava que chegou a meter as mãos nas fuças do Pinheiro. O Manel Barbeiro bem o viu de olho negro. Mais negro que o sorriso que tinha por força da ausência de água misturada com pasta de dentes. Água nunca. Vá lá, só quando o Tinoco a mesclava no tinto para enganar os fregueses. O Pinheiro gostava da pinga. Então e ela, a Josefa? Fica-te por aí um pedaço de tempo que ainda vais ter de bulir. Ó se ia. É que o graveto não é fêmea e é preciso dar ao chinelo todos os dias. Entretanto, o Manso andava perdido. Sim, o Manso é o Pinheiro, já que de bravo nada tinha e a homenzarrada da terra dava e gostava de inventar estes apliques de personalidade.
Quem nunca gostou da brincadeira foi a Josefa. Entende-se. O falatório não abonava em seu favor. Manso deposto, aguardava-se novo rei para ocupar o cadeirão supimpa que a moça tinha adquirido para si e foi usado pelo Pinheiro enquanto lá andou. Rico sofá. Como vos tinha dito, a Josefa quase sucumbia a mais um desgosto amoroso. Quase! Mas lá andava vivinha da Silva, rebolando as curvas e contracurvas de um corpo que ainda fazia gastar meias solas aos que passavam nas ruas por onde andasse. Os mesmos que apareciam com dores no pescoço, torcicolos evidentemente, no consultório do doutor Mirandês e cuja receita era igual para todos. Menos olhadelas por cima do ombro e dedicação às esposas. Para quem era casado, pois os outros só tinham de lhe fazer frente e candidatar-se à cadeira de sonho.
Estava na calha. A rapariga não poderia viver desamparada durante muito tempo. Até acertar. Todos na terra sabiam que o predestinado ainda não tinha chegado. Necessitava de ser possuidor de várias nuances de encantar e encher o olho. Não de pancada, está bom de ver. Essa só serviria para alimentar os cônjuges desalinhados das suas ideias predefinidas, recalcadas, vincadas a ferro de engomar por uma vida de mudanças. Mundos de trapaças e energias transbordantes, em vão. Mas sempre com o mesmo objetivo. O bem-estar terreno enquanto pudesse e tivesse corpinho para alimentar o sonho.
Será que tu não enxergas, mulher? Quando é que essa cabeça descansa? Aproveita a calma da tarde, faz planos para assentar e deixa-te de invenções, dizia-lhe a prima Gertrudes que também era bonita e torneada mas apresentava-se muito mais inteligente do que a modernaça, destrambelhada, filha de seu tio.
De falhanço em falhanço, prenhe de tiros de pólvora seca, continuava a senda. Os pretendentes também não se faziam rogados. Enquanto uns, perfeitamente sabedores das virtudes carnais da cachopa, pretendiam era festa. Havia um ou outro, tímidos o bastante, desconhecedores da vida vivida sacada a ferros, fórceps também, capazes de lhe dar mundos e fundos. Coitados, não eram possuidores de fortuna salvadora da patroa, mulher de grandes apetites doirados, apenas capazes de satisfazer as necessidades do dia-a-dia. Era pouco.
De falhanço em falhanço, as exigências, os obstáculos colocados, a realidades acerca das intransigências à reformulação do ninho foram baixando de cotação. As primeiras aflições e as contas com o centro de saúde estavam em alta. Foi ali. No meio da salvação das maleitas de pequena monta, surgiu-lhe o plano final. A grande machadada. A salvação. Ele, doutor médico, viúvo e conta bancária forrada, embeiçou-se pela paciente. Consulta atrás de consulta, um encontro fortuito, pensava ele, no café da esquina e estava a coisa montada. Estratega de gabarito, o cadeirão estava prestes a ser ocupado. Ou talvez estivesse na altura de se adquirir um novo.
Ali vai ela, a Josefa, no seu novo bólide. Casaco de peles, perfume em excesso do mais caro, brincos de diamantes e um coitado a seu lado. Ai Monteiro, estou farta desta espelunca. Temos de mudar de ares. Já não se aguenta tamanho chiqueiro, insistia a artista, conseguindo levar por diante os seus intentos.
Viste-a? Nunca mais ninguém a viu. Safou-se! Quase a cair na lama. Fazer pela vidinha, é o que é. Quase.

Fonte: Facebook

domingo, 26 de dezembro de 2021

6 dias, 6 propostas


1. Visita
Ílhavo
Museu Marítimo
Domingo, 26 de dezembro

É domingo. O Natal foi ontem sem que a pandemia se dissipasse. Uma ritualística visita a Ílhavo, terra natal, simbolicamente dirigida aos fisicamente ausentes, com epílogo orientado para o seu Museu Marítimo. Não a primeira, nem, assim o esperamos, a última visita. Mas intencional para memorizar e contemplar (com um esgar crítico à luz da uma atualizada leitura retrospetiva), de vivências de infância, de representações afetivas e até de aromas - à volta da pesca e dos navios de pesca do bacalhau. Nos museus, as atividades humanas direta ou indiretamente aí representadas têm zonas de luz e zonas de penumbra que a ronda interpretativa deverá saber cotejar. Nesta visita deve também ser particularmente assim.


2. Livros
A história da filosofia de Will Durant
Acompanhado pelo espumante Quinta dos Abibes
Segunda feira, 27 de dezembro

O tempo atmosférico anuncia-se adverso a saídas. O périplo será, pois, introspetivo. Uma passagem pelos livros por ler, a que se somaram alguns recém-chegados e que incluem a recentemente lançada (2021) tradução de A História da Filosofia de Will Durant, prenda de Natal de uma amizade telúrica. Tal como aí se prefacia, "por último temos os poucos cujo prazer reside na meditação e na compreensão; que anseiam não por bens, nem pela vitória, mas pelo conhecimento que deixam ...". Leitura a começar e a terminar em casa, com "roupa velha" e espumante Quinta dos Abibes, reserva, ao jantar, naturalmente!


3. Museu
Sangalhos
Museu das Duas Rodas
Terça-feira, 28 de dezembro

Semana de férias da universidade, permitindo, até o final do ano, atualizar configurações que, simultaneamente, deram forma e conteúdo a trajetos de vida que já ultrapassam 60 anos. Repartindo a vida entre a academia e a vitivinicultura, é dia de rumar a Anadia. O percurso obriga a olhar Sangalhos e, logo aí, na fímbria da passagem, a recordação das celebérrimas e heroicas voltas a Portugal em bicicleta, cujo profundo significado autóctone não se esvaiu na névoa dos dias, permanecendo vivo e atual no Museu das Duas Rodas. E porque as duas rodas não morrem nas "pasteleiras", os veículos motorizados tiveram uma proficiente indústria e... heróis do motocrosse! No velódromo - Centro de Alto Rendimento, também obra arquitetónica magnífica, de visita recomendada.


4. Hotel
Curia
Acompanhado por um périplo pela zona da Bairrada
Quarta-feira, 29 de dezembro.

A pernoita tem, na Curia, o lazer que dá saúde. Nas termas. No seu hotel. Nos jardins. A Curia é uma iniciação à intemporalidade que nos consegue projetar para o universo que cada um é, mas, por vezes, tarda em descobrir. Espaço que é uma cadeia de união de sucessivos apelos à simplificação do que tornamos desnecessariamente difícil, apenas porque é simples e bela. É, também, uma forma diferente e diferenciada de iniciar um périplo pela Bairrada através do seu emblemático concelho de Anadia. De caminhar percebendo as espécies que nos dão espécie e, por fim, pensar na inultrapassável vantagem que o contacto sensorial e sensitivo com a natureza possui: não é digitalizável!


5. Comer
Leitão
Bairrada
Sexta-feira, 31 de dezembro

Como de há muito apregoo, o que faz de um qualquer número de pérolas um colar é o fio que as une. Assim é um ano, cujo último dia ficou reservado para fechar o colar com a fabulosa gastronomia que me acompanha nesta viagem natalícia e bairradina de Ílhavo até Anadia e de Anadia até Coimbra. Paramos no leitão. No leitão assado à Bairrada. Na múltipla e mágica oferta de paragem obrigatória. A amesentação (termo imortal do imortal José Quitério) terá de ser cuidada, deve incluir os "miúdos" - prefiro em arroz pardo e malandro - à entrada, e o majestoso "reco" de raça, peso e idade próprias para o efeito, em assadura executada por especialista que não descure o molho, e com "cortadura" de impecável recorte técnico cirúrgico. É que uma má "trinchadura" pode estragar um excelente leitão. E é agora, à mesa com fumegantes pedaços e aromáticas libações, que a minha acompanhante opção se firma: batata cozida com a "pele"! No mais, remanesço com um Quinta dos Abibes Sublime Espumante Brut Nature, colheita de 2011 e dégorgement de 2019.


6. Passeio
Coimbra
Universidade e velha alta da cidade
Sábado, 1 de janeiro

De regresso a Coimbra. À minha universidade. Muito poucas reúnem as características e os atributos de que a Universidade de Coimbra se pode orgulhar. História, património, cultura, investigação, ciência, modernidade e multiculturalidade. Atualmente com os seus três polos e firmada produção científica, mantém e preserva locais de visita e de conhecimento obrigatórios que não apenas refletem mas vivificam a compreensão de Portugal, da lusofonia e do mundo. Iniciar o ano, num dia tradicionalmente calmo, sem o bulício comprometedor dos movimentos e dos percursos, com uma caminhada pela velha Alta coimbrã, circundando a universidade e o património artístico adjacente, constitui um exercício de frescura, de alento e de reflexão, bem como um afetuoso lenitivo para domar algumas mais agrestes vicissitudes da vida.

Fonte: Francisco Batel Marques in DN

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

Natal de 2021

 

O Prof-Folio deseja a todos os seus seguidores um Feliz Natal!

Quatro histórias de profissionais que trabalham na época festiva!


Para médicos, enfermeiros, assistentes de viagens e tantos outros, o Natal e o Ano Novo são dias iguais aos outros. O ECO conversou com quatro profissionais que vão estar a trabalhar nesses dias.

Há profissões que nunca podem ser interrompidas. Para médicos, enfermeiros, assistentes de viagens, bombeiros e tantos outros, o Natal e a véspera de Ano Novo são dias iguais aos outros. O sentido de missão, o voluntarismo ou a necessidade fazem com que “abandonem” as suas famílias em prol do bem comum. O ECO conversou com quatro profissionais que nos dias 24, 25 de dezembro e 1 de janeiro vão estar a trabalhar.
Carla Cunha, enfermeira: “Vai haver ali umas horas em que a nossa filha não vai estar nem com um nem com outro”

Carla Cunha trabalha no bloco de partos do Centro Hospitalar Tâmega e Sousa, em Penafiel, e desde que começou a trabalhar, há cerca de 13 anos, que perdeu a conta aos anos em que está de serviço na noite de Consoada ou no dia de Natal. “Acho que acaba por custar mais à minha família a minha ausência. Custa-me muito sair de casa, deixá-los e ver as suas caras quando tenho de sair, mas depois de estar ao serviço para mim acaba por não ser tão penoso. Acabamos por criar laços com essas pessoas que ficam para a vida“, conta a enfermeira de 35 anos, ao ECO.

Com um marido também enfermeiro e uma filha de oito anos, a gestão familiar vai-se fazendo com o apoio dos avós, que ficam com a criança quando ambos estão a trabalhar. É isso que vai acontecer durante esta época festiva, dado que Carla Cunha vai trabalhar no turno da noite de 24 para 25 de dezembro, que começa às 20h, e o marido vai fazer o turno na tarde noutro hospital. “Vai haver ali umas horas em que a nossa filha não vai estar nem com um nem com outro”, lamenta.

Apesar de admitir que já está “habituada” a trabalhar nestes dias, Carla Cunha não deixa de lamentar que abdica de “momentos importantes” em prol de uma profissão que “monetariamente não é recompensadora”. “Sinto é que perco momentos que nunca mais recupero. A minha filha só tem oito anos uma vez na vida”, afirma. Contudo, o sentido de “missão” fala mais alto: “O nosso trabalho é uma porta aberta. Não exclui pobres, ricos ou nacionalidades. Estamos sempre lá e o Natal não é diferente”, atira.

Na noite da Consoada ou no dia de Natal, “todas as pessoas estão na mesma situação”, desde auxiliares, enfermeiros e até aos médicos, por isso, “vive-se um ambiente diferente”, conta a enfermeira. E como o serviço em que trabalha está relacionado “com o nascimento acaba por estar relacionado com o Natal. É bonito de viver!“, garante. Assim, estes dias são habitualmente “mais calmos”, dado que “só vêm mesmo as situações mais necessárias e urgentes”. Sem a correria de outras alturas, “as pessoas estão mais disponíveis” para estarem “umas com as outras” e “terem “um momento quase de família”, havendo margem para partilharem comida e algumas trocas de prendas simbólicas.
Patrícia Guerreiro, assistente de terra: “Há sempre trabalho. Há sempre alguém a chegar ou a partir”

É de sorriso na cara que Patrícia Guerreiro e a sua equipa fazem a gestão dos recursos humanos de várias companhias aéreas que operam no Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa. Em dias normais, trata-se de uma gestão de cerca 200 pessoas por turno, que vai desde a “alocação de tarefas de check-in, portas de embarque ou chegadas” até ao acompanhamento de passageiros ou ambulâncias para dentro da pista.

No Natal, a equipa é “mais reduzida”, dado que “há companhias aéreas que, por norma, cancelam alguns voos”, mas não deixam de ser dias movimentados. “Há sempre trabalho. Há sempre alguém a chegar ou a partir“, diz Patrícia Guerreiro, técnica de tráfego de assistência em escala, da Groundforce, em Lisboa. E se no Natal “as pessoas têm tendência a ficar pelas suas casas e não a viajar tanto”, por outro lado, na passagem de ano, o movimento volta a aumentar “porque as pessoas deslocam-se para celebrar”, sublinha.

A trabalhar no setor da aviação há cerca de 20 anos, tal como Carla Cunha, também Patrícia Guerreiro já perdeu a conta aos anos que passa longe da família. “É sempre difícil, mas foi a isso que nos propusemos. Uns anos calha a uns, noutros calha a outros, às vezes ficamos privados só do almoço de Natal, outras vezes da véspera… depende. Ou então temos de comer rápido que vamos entrar à meia-noite [risos]. É por aí”, conta, ao ECO.

Por isso, também este ano, Patrícia vê o “copo meio cheio”, dado que vai estar a trabalhar entre as 16h e meia-noite de dia 25, o que permite “almoçar com a família”. “Já não perco tudo”, brinca. Ainda assim, e apesar de já ter uma filha com 18 anos, admite que esta ausência acaba por custar mais à família. “Para mim há o sentido de dever a cumprir. Não posso estar a falhar para com os outros que estão escalados. Por muito que goste da minha família não vou conseguir não cumprir os meus deveres, por isso, acho que é pior para a família“, justifica.

Não obstante, a família acaba por se adaptar às circunstâncias. “Os filhos de quem trabalha aqui no aeroporto estão habituados a andar de mochila às costas a saltitar pela casa mais próxima que possa ficar com eles, quer seja avós, tios, porque os turnos assim o obrigam”, diz, acrescentando que foi aquilo que escolheram e que quem está “ao lado vai por arraste”.
Rodolfo Lopes, técnico de assistência: “Na noite de passagem de ano, os pedidos de assistência automóvel são absurdos”

Com uma filha de apenas nove meses, Rodolfo Lopes é técnico de assistência na Europ Assistance, empresa onde trabalha há já sete anos. Como este vai ser “o primeiro Natal” da filha, pediu para não trabalhar nesses dias e, por isso, juntamente com outros quatro colegas, vai fazer o turno da noite de passagem de ano. No entanto, à semelhança do ano passado, devido à pandemia, vai estar em teletrabalho. Ainda assim, o turno, que começa exatamente às 00h00 de 1 de janeiro e vai até às 08h00 da manhã não se adivinha fácil.

“Entre as 23h50 e a 00h10 temos aquela situação em que nada ocorre, está tudo bem (risos). A partir daí, as coisas começam a complicar-se“, aponta o jovem de 27 anos. Preparados para “todo o tipo de trabalho” e para gerir “todo o tipo de situações”, que vão desde “despistes, acidentes, pessoas presas nos elevadores”, avarias de automóveis ou assistência médica ao domicílio, há noites de passagem de ano “muito complicadas”, admite. Mas há exceções, sublinha: “Costumo fazer quase todas as noites da passagem de ano e em cinco anos tive três más. As restantes foram apenas noites muito movimentadas”, refere.

Em contrapartida, e à semelhança do que sucede nos hospitais, as noites de Natal são bastantes mais calmas. “No Natal, as pessoas não recorrem tanto a este tipo de assistência porque estão mais refugiadas em casa com as famílias”, diz Rodolfo Lopes, acrescentando que os pedidos de assistência acabam por acalmar a partir, “no máximo das 3h00 da manhã”.

Desde criança que adora o Natal e a passagem de ano, pelo que estar em teletrabalho suaviza um pouco o facto de estar de escala. “Custa muito menos em teletrabalho., porque não temos de sair de casa quando a família está toda presente, a festejar, às gargalhadas. [Na empresa] temos um ambiente acolhedor, comida à disposição, não nos falta nada, mas falta-nos a nossa família”, admite Rodolfo Lopes.
Joana Mascarenhas, médica: No dia 24 “não há tantas falsas urgências. É nos dias de jogo do Porto”

Joana Mascarenhas é especialista em Medicina Interna no Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho desde 2011 e nesse tempo “só houve dois anos” que não trabalhou “no Natal”. Para esta médica nascida em Viseu, “esta é a altura do ano em que ninguém gosta de trabalhar”, mas admite que a gestão familiar era mais complicada quando tinha que se deslocar até à sua cidade-Natal.

“Não tenho filhos, mas tenho pais que só me tinham a mim, mais ninguém. Nos últimos anos, como vêm passar o Natal ao Porto custa-me menos do que antes me custava não ir lá. Por vezes ia passar o 24, saía de Viseu às 5h30 da manhã para estar em Gaia às 8h00 e fazer o turno de 24 horas do dia 25″, conta, ao ECO.

Este ano o “sorteio” ditou que está escalada para trabalhar o dia 25 de dezembro à noite, das 20h30 às 8h30 da manhã, para tratar de doentes internados. Eventualmente, fará também o dia 24 de dezembro nas urgências, onde estará responsável por acompanhar “todos os pacientes que entrem com prioridade amarela e laranja”, isto é, os casos mais graves, depois da pulseira vermelha. Tal como sucede no Centro Hospitalar Tâmega e Sousa, no serviço de urgência do hospital de Gaia as noites de Consoada costumam ser calmas.

“Nota-se que no dia 24 [de dezembro] as pessoas ainda querem estar com a família, com os idosos, e às vezes eles até estão piores e as pessoas não os trazem à urgência, mas depois, a partir do dia 25, já os querem deixar”, sublinha, acrescentando, no entanto, “que o último ano foi um bocadinho diferente”, devido à pandemia. “Não há tantas falsas urgências. É como nos dias de jogo do Porto. Enquanto o Porto joga não há tantas falsas urgências, quando o jogo acaba pode ter a certeza que aquilo começa a encher”, conta entre risos.

Apesar de referir que “se fosse hoje” talvez não escolhesse a “mesma especialidade”, dadas as mudanças na área da Saúde, Joana Mascarenhas encara o espírito de missão e de “sacrifício” com unhas e dentes. “Não é fácil, mas sabemos que tem de ser. É uma inevitabilidade“, conclui.

Fonte: ECO

quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

As escolas e a vida numa “bolha”


Foi mais um dos termos que a pandemia injectou no quotidiano. “Bolha”, que é como quem diz nada de contactos fora do grupo. Nas escolas garantia-se: “Continua cada turma na sua bolha.” Isso significava os alunos terem a mesma sala de aula atribuída, deslocarem-se ao refeitório sem outras companhias para além da dos colegas da turma, só saírem para os corredores ou para o ar livre sem presenças “estranhas”.

Já era uma sorte, porque a regra geral definida pelas autoridades de saúde tinha sido para que nem saíssem da sala durante o intervalo, que deveria ser de apenas cinco minutos. A experiência levou várias escolas a furarem esta indicação, como conta uma professora de Lisboa: “A ideia destes intervalos passados na sala até tinha sido boa para evitar contágios, mas tornou-se insustentável. Eles tinham mesmo de poder respirar.” E assim os alunos passaram a poder “sair um bocadinho, mas mantendo-se na sua bolha”.

Depois de um ano de 2020 marcado pelo ensino à distância, logo no início de 2021 os estudantes do ensino básico e secundário voltaram para casa devido ao caudal de infecções e mortes que começava a ser provocado pela então nova variante Delta. A interrupção das actividades lectivas, iniciada a 22 de Janeiro, deveria prolongar-se por 15 dias, mas acabou por estender-se até Abril.

As restrições impostas nas escolas acabaram por ser mais rígidas do que as praticadas na vida em sociedade, mas outras mantiveram-se iguais, com a máscara omnipresente. Beber um café tornou-se uma miragem, mesmo ao postigo a sua venda foi interdita entre Janeiro e Abril, e muitos estabelecimentos fecharam nesse período, tendo acontecido o mesmo com os bares das escolas.

As refeições em take-away generalizaram-se e, para prevenir contactos próximos, os refeitórios escolares também seguiram essa prática — não só quando garantiram refeições aos alunos mais carenciados, durante o período em que as escolas estiveram fechadas, como também aquando da sua reabertura em Abril.

Apesar de o país ter começado então a entrar gradualmente em desconfinamento, no regresso às aulas manteve-se o que já vinha sendo a prática: uso de máscaras obrigatória, desinfecção de mãos, circulação condicionada no recinto escolar e horários desencontrados, para evitar concentrações de alunos, com uns a começar mais cedo pela manhã e outros a arrastarem as aulas até mais tarde.

Pelo caminho, à medida que surgiam casos de infecção, as turmas iam sendo enviadas para casa, com os alunos obrigados a cumprir, de cada vez, 14 dias de isolamento – uma prática que se prolongou durante todo o ano de 2021. Mesmo depois de o Governo ter declarado que 1 de Outubro seria o “dia da libertação”.

Nessa altura, nas escolas, o uso de máscaras passou a ser facultativo nos recreios e as actividades desportivas voltaram a entrar no espaço escolar. Cá fora, as discotecas e bares reabriram, o acesso a restaurantes e cafés deixou de estar condicionado.

À semelhança dos adultos, também os jovens entre os 12 e os 18 anos foram vacinados em massa. No início do ano lectivo 2021/2022 acreditava-se que esta era a garantia para não voltar a mandar os alunos para casa sempre que um ou outro ficasse infectado. Acabou por não acontecer assim.

Fonte: Público

quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

Alunos do secundário vão poder escolher disciplinas e fazer currículos próprios


Portaria publicada na semana passada em Diário da República prevê que as escolas com planos de inovação possam oferecer aos alunos maiores possibilidades de escolha, incluindo criar novas disciplinas e agregar já existentes

As escolas com planos de inovação aprovados pelo Ministério da Saúde poderão oferecer aos alunos do ensino secundário a possibilidade de construírem o seu próprio currículo, escolhendo qualquer uma das diferentes disciplinas dos diferentes cursos deste nível de ensino.

A notícia foi avançada pelo jornal Público e confirmada pela CNN Portugal, encontrando-se as regras deste regime publicadas em portaria publicada a 17 de dezembro.

A condição para a escolha de disciplinas é que a escola em causa tenha, portanto, um plano de inovação, programa desenvolvido a partir de 2019 nas escolas que assumiram a gestão de mais de 25% da carga horária dos alunos, distribuindo esta carga horária por novas disciplinas, por exemplo, ou fusão de outras que já existissem.

As medidas previstas na nova portaria poderão, na prática, entrar em vigor no próximo ano letivo, desde que as escolas cumpram os prazos indicados no decreto para promoverem os seus planos de inovação ou eventuais alterações aos que estão já em curso.
Maior flexibilidade para as escolas

A portaria agora publicada alarga a flexibilidade prevista nos planos de inovação, permitindo aos alunos ter "percursos formativos próprios" com maiores possibilidades de escolha. E se antes, de acordo com o currículo do ensino básico e secundário adotado há quatro anos, os alunos já podiam fazer um "percurso próprio" com a permuta de disciplinas dos cursos científico-humanísticos, agora deixam de ser obrigados a frequentar um conjunto de disciplinas até então obrigatórias: disciplinas da componente de formação geral, uma disciplina anual, outra bienal e uma trienal da componente específica do seu curso de origem.

Ao Público, o Ministério da Educação explica que a nova portaria "abre a possibilidade, única e exclusivamente mediante a apresentação de planos de inovação, de criar formas de organização do ensino secundário próprias", permitindo ainda que os alunos em zonas com menor densidade populacional e menor oferta "não estejam obrigados a um único curso, podendo organizar-se percursos que combinam disciplinas de vários cursos em função de interesses que abram o leque de opções para prosseguimento de estudos".

Em mais de 800 agrupamentos de escolas, 95 têm planos de inovação, refere o mesmo jornal. E estas poderão optar também por alterar o desenvolvimento anual, bienal ou trienal das disciplinas que integram a matriz curricular base, redistribuindo cargas horárias e sua organização, uma medida que até agora estava limitada ao ensino básico.

As escolas poderão assim criar novas disciplinas e definir "documentos curriculares próprios" para as novas matérias, bem como criar disciplinas "agregadoras" que fundem disciplinas da matriz de base.

Será também possível a constituição de turmas ou grupos de alunos de anos de escolaridade diferente, desde que sejam do mesmo ciclo ou nível de ensino.

terça-feira, 21 de dezembro de 2021

As origens do Natal

Não se sabe o dia em que Jesus Cristo nasceu. O dia 25 de Dezembro é uma convenção cristã, que assenta em tradições pagãs. Nem sequer se sabe o ano em que Cristo nasceu. Muito provavelmente nasceu entre os anos 6 e 4 a.C., isto é, antes da era Cristã, mas, mais uma vez, trata-se de uma convenção cristã, bem mais tardia do que a do 25 de Dezembro. Quais são as origens do Natal, que é talvez a data festiva mais importante no nosso calendário?

Jesus Cristo, a figura central do Cristianismo, tem, decerto, existência histórica, mas essa existência está envolvida numa nuvem de mistérios. Os historiadores concordam que um pregador judeu foi condenado à morte na cruz por Pôncio Pilatos, o governador romano da Judeia, no tempo do imperador Tibério em Roma. Os quatro Evangelhos canónicos falam da crucificação de Cristo. Mas sabe-se menos sobre o nascimento. Dos quatro Evangelhos só dois o relatam: segundo o Evangelho de São Lucas, José e Maria viajaram de Nazaré para Belém, um lugar da Judeia pouco a Sul de Jerusalém, por altura de um censos. Segundo o Evangelho de São Mateus, que concorda com o nascimento em Belém, o Menino Jesus é visitado pelos «reis magos», que vêm do Oriente alertados por uma estrela. O governador Herodes, um antecessor de Pilatos, terá ordenado a «matança de inocentes», que obrigou a família de Jesus a fugir para o Egipto. Herodes existiu mesmo, mas o referido massacre é provavelmente um mito.

Os Evangelhos que relatam a Natividade são omissos quanto ao dia em que ela se realizou e até quanto à estação do ano. Só no século IV da nossa era é que foi estabelecido o dia 25 de Dezembro como dia de Natal. Este dia era, no calendário romano, o solstício de Inverno, que significa o dia em que há o menor período de luz solar durante o dia (esse período começa então a crescer). Os Romanos tinham uma festividade ligada a esse solstício, em honra de Saturno, uma divindade agrícola, que começava a 17 de Dezembro e ia até 25 de Dezembro. Realizava-se um banquete público e havia troca de presentes, tal como hoje há nas festividades natalícias. Havia dias feriados sendo dadas escravos algumas regalias, como a de não trabalharem. A festa significava o final do ano agrícola, sendo expressas as boas expectativas quanto ao ano que estava a começar. Foi o físico inglês Isaac Newton (um anglicano que, curiosamente, nasceu a 25 de Dezembro, no calendário juliano que então se usava em Inglaterra), que, no século XVII, sugeriu a associação entre a data escolhida para o nascimento de Cristo e o solstício. No tempo cristão há todo um simbolismo de início de luz associado ao nascimento de Cristo, a «luz do mundo», e esse simbolismo tem claramente origem na festa pagã. A Igreja soube «colar» muito bem as tradições que criou com aquelas que a precederam.

Os Romanos não sabiam tanto de astronomia como nós. Hoje sabemos que a data do solstício, sendo variável, calha a 20 ou 21 de Dezembro, diferindo o nosso calendário, o gregoriano (que se iniciou em 1682, com uma bula do papa Gregório XIII), do antigo calendário juliano por onze dias. Hoje sabemos também que a órbita da Terra em torno do Sol é ligeiramente elíptica, ocorrendo o periélio (o ponto de aproximação máxima) a 2 de Janeiro, perto do solstício e, ainda mais, do começo convencional do ano civil. A sucessão das estações do ano (sendo o Inverno a mais fria no hemisfério Norte) tem a ver não com a maior ou menor aproximação do nosso planeta ao Sol, mas sim com a inclinação do eixo de rotação da Terra relativamente ao plano da órbita.

Como Herodes morreu no ano 4 a.C., o nascimento de Jesus teria de ser anterior a esse ano, partindo do princípio de que Herodes orientou os reis magos para Belém, seguindo numa profecia do Antigo Testamento sobre o nascimento do «rei dos Judeus». Foi só no século VI da era cristã que um monge da Igreja, Dionísio, o Exíguo, nascido na Círia Menor, numa região da actual Roménia, mas estabelecido na Cúria Romana em 500, fixou o ano do Senhor no ano 1. Como não existe ano zero, o primeiro século começou no ano 1 e, para perfazer cem anos, tem de incluir o ano 100 (nesta lógica, o século XX não acabou a 31 de Dezembro de 1999, mas sim a 31 de Dezembro de 2000). Díonísio foi o primeiro a abandonara o calendário associado a imperadores romanos ou à fundação de Roma. A sua proposta demorou a estabelecer-se. Em Portugal demorou até 1422, no reinado de D. João I… Os cálculos dionisianos não podiam estar certos, até pelo grande desconhecimento historiográfico que havia na época sobre Cristo.

Hoje temos várias maneiras de datar o nascimento de Cristo: ou olhamos para os Evangelhos canónicos e outros documentos que refiram a infância de Jesus e analisamos as figuras ou eventos históricos associados, ou olhamos para os relatos da sua vida pública nos mesmos Evangelhos ou noutros documentos (note-se que os Evangelhos são muito posteriores à vida de Jesus) e recuar três décadas.

Um terceiro meio de datação, embora tenha um fundo científico, está repleto de incerteza: Como o Evangelho de Mateus fala da estrela de Natal, podemos, supondo a existência de um evento astronómico real, deduzir quando Jesus nasceu pela astronomia. Mas é tarefa muito difícil, pois não se sabe o que teria sido essa estrela. Terá sido uma conjugação dos dois maiores planetas, Júpiter e Saturno, um fenómeno que é relativamente banal? Ou terá sido o aparecimento de um cometa, tal como Giotto representou num fresco de uma capela em Pádua? Ou terá antes sido uma supernova, tal como aquela que o astrónomo alemão Johannes Kepler descobriu em 1604. Ele pensava ter visto uma estrala a nascer (uma «nova estrela»), mas sabemos hoje que era uma estrela a morrer. Não existe informação suficiente, divergindo a opinião dos astrónomos e dos historiadores da astronomia.

Certo é que o Natal não «é sempre que um homem quiser», mas, porque o homem assim o quis, no dia 25 de Dezembro de todos os anos. Bom Natal!


Fonte: Carlos Fiolhais in De Rerum Natura

segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

U2 - Christmas (Baby, Please Come Home)

O Prof-Folio está de regresso após um longo período de interregno...

Desejo a todos um Feliz Natal!




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