Cantar a Grândola Vila Morena no Parlamento, quando Passos Coelho falava, foi uma das contestações mais inteligentes e bonitas a que assisti na nossa democracia. Foi um acto pensado e executado para um determinado dia, mas acabou por ter um efeito contagiante, o que até poderia ter sido positivo, caso não se tivesse banalizado. Os rostos da actual crise não são todos os ministros do Executivo, não são todos os dirigentes do PSD ou do CDS, não são todas as pessoas que votaram neste Governo. Os alvos devem ser bem definidos e os tiros têm de ser certeiros, para que as coisas funcionem.
O que se está a passar, com a Grândola cantada nas escolas quando os putos querem reclamar da falta de condições numa casa de banho, com a Grândola cantada por funcionários de uma fábrica que não concordam com a política de horas extraordinárias ou com a Grândola cantada de cada vez que qualquer ministro sai à rua só está a contribuir para que uma canção que simboliza a conquista da Liberdade num ponto de viragem para a democracia se torne numa anedota. E isso não devia acontecer nunca.
Outra coisa que é importante que se perceba: a Grândola Vila Morena não é património da Esquerda. É património cultural do País. Todos os que são pela Liberdade têm o direito de a sentir como sua. Numa conjuntura em que muitas vezes o discernimento parece tolhido é preciso recordar a muita gente que a esmagadora maioria das pessoas que votam PSD e CDS são favoráveis a Abril, são favoráveis à Liberdade e à democracia. Não é por alguém votar no PCP ou no Bloco de Esquerda que é mais democrata do que qualquer outra pessoa. E esta confusão, muitas vezes, não está clara na cabeça de muita gente.
Fonte: O Arrumadinho
Sem comentários:
Enviar um comentário