quarta-feira, 6 de março de 2013

Hugo Chávez (1954-2013)


Líder carismático, populista, demagogo, irresponsável, herdeiro espiritual de Simón Bolívar, comandante, socialista, cristão, caudilho, fascista, comunista. Puseram-lhe todos os rótulos, chamaram-lhe todos os nomes, bajularam-no de mil formas. Hugo Chávez, que se deu a conhecer ao mundo inicialmente como oficial golpista, vindo mais tarde a candidatar-se a umas presidenciais que venceu, alterou a Constituição de modo a fazer eleger-se sem limite de mandato.

Tinha uma insaciável sede de poder!

Fez mil juras de morte a Washington, sem deixar de ser um dos quatro maiores fornecedores internacionais de petróleo aos Estados Unidos, e prometeu levar a sua "revolução bolivariana" e o "socialismo do século XXI" aos quatro cantos da América Latina.

Mas o destino foi-lhe cruel: não chegou a tomar posse do terceiro mandato presidencial conquistado nas urnas a 7 de Outubro de 2012, quando já se encontrava gravemente doente. Desde 11 de Dezembro, dia em que aterrou em Cuba para uma operação de emergência, nunca mais surgiu em público nem os venezuelanos voltaram a escutar a sua voz. Durante o ano passado, já havia passado 106 dias na ilha que os irmãos Castro governam desde 1959 e vários ministros acompanhavam-no nestes périplos a Havana, onde chegou a despachar e a assinar decretos.

Estava na presidência desde 1999. E ocupava quase todo o palco mediático do país, com as suas intermináveis arengas aos venezuelanos, várias das quais transmitidas em todos os canais televisivos por imposição legal. Nas presidenciais do ano passado, com a sua entourage obcecada em esconder dos eleitores o verdadeiro estado clínico do recandidato, recusou qualquer debate com o opositor, Henrique Capriles, trocando o argumento civilizado pelo insulto, habitual arma dos fracos.

Foi uma campanha inútil para uma eleição igualmente inútil. Foi uma desesperada jogada do chavismo para perpetuar uma liderança que prometia estender-se pelo menos até 2019 e não chegou sequer a cumprir o acto de posse, a primeira formalidade indispensável para cumprir o cargo.

Os últimos meses processaram-se num macabro teatro de sombras em Caracas. Com encenações de todo o tipo, incluindo a exibição de uma sorridente fotografia do antigo tenente-coronel paraquedista rodeado das filhas no leito hospitalar enquanto se entoavam loas à "recuperação" do moribundo.

Chávez morreu há poucas horas - vítima de um cancro que lhe terá sido inoculado pelos "inimigos da revolução", como admite o vice-presidente e putativo sucessor do caudilho, Nicolás Maduro, prometendo uma minuciosa "análise científica" para confirmar tão patética tese.

O chavismo ambiciona continuar sem Hugo Chávez. Mas não será a mesma coisa. O carisma não se transmite por decreto.

Caiu o pano sobre o teatro de sombras: Chávez, com as suas mil contradições, não governará até 2019 como um semideus idolatrado pelas massas, odiado visceralmente por numerosos inimigos políticos e tendo ao seu dispor um impressionante aparelho de propaganda, bem remunerado com as receitas do petróleo.

Era apenas humano, demasiado humano na evidência dos seus defeitos e virtudes. Como qualquer de nós, afinal.

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