Saragoça da Matta
Jornal i - 02-08-2013
Um dos grandes interesses mediáticos, desde o tempo da literatura "de cordel", é o crime. Hoje em dia, com pasquins escritos e televisionados sedentos de receitas (o mercado publicitário está em fase minguante), o interesse pela criminalidade ainda aumentou, crescendo o número de aparentes órgãos de comunicação social que mais não são do que vias de construção de escândalos para gáudio da populaça. Sim, porque a populaça mantém também o ancestral gosto sórdido por sangue, sexo e fraudes.
Nada mais conveniente para a turba do que justificar as suas desventuras com escândalos alheios. Em vez de ao pequeno-almoço porem a mão na consciência para verem os pecadilhos e pecadões cometidos, é mais higiénico encontrar bodes expiatórios supostamente responsáveis para os males do colectivo. Como não autoperdoar o pequeno furto, a pequena fuga ao fisco, a pequena infracção estradal, a pequena infidelidade conjugal ou empresarial, o pequeno abuso de poder e a pequena corrupção, se nas notícias se encontram os grandes criminosos seleccionados pelos media e já transformados em bolo alimentar?
O conforto da própria má consciência obtém-se, por purga colectiva, mais facilmente se os males do todo puderem ser imputados aos "outros". Daí, aliás, a justificação e exculpação dada por centenas de milhares de eleitores de norte a sul do país àqueles que "roubam mas fazem"! Esses são os Robin Hoods da actualidade, por comparação com os Xerifes de Sherwood, que roubam sem fazer. Tudo porque se assume que roubar é o mínimo denominador comum da sociedade lusa. E será certamente, pois com centúrias de experiência já entrou nos genes.
Como o próprio povo ensina, "o bom julgador por si se julga". Assim que a esmagadora maioria acredite na culpa dos imputados sempre que um escândalo é divulgado. Todos esses sabem que, em igual situação, fariam precisamente aquilo que é assacado como crime aos demais. Um terceiro maldoso até pensaria que estão todos à espera daquela "ocasião" que possa deles fazer "ladrão"!
Por seu turno, como a área daquilo que é crime cresceu muito desde o Renascimento, a matéria de trabalho dos tais travestis de meios de comunicação social é virtualmente infindável. Facadas, violações, raptos, homicídios, furtos, roubos, burlas, fraudes fiscais, branqueamentos de capitais, corrupção, tudo é manancial de "notícias". Sejam verídicos sejam falsos os factos relatados, há que dar-lhes o máximo de destaque. Fazer capas, manchetes, caixas, gráficos... é o sangue quente vertido na arena da actualidade.
Por vezes, contudo, esses pasquins filam uma vítima concreta para perseguir, motu proprio ou por encomenda. E nesses casos, apesar do excesso de matéria-prima, são capazes de, durante dias consecutivos, publicar supostas notícias que dizem sempre o mesmo, em aborrecidas variações sobre o mesmo tema, e com total desdém pela verdade. É assim! Nem se percebem as críticas a políticos, juízes, advogados, economistas e treinadores de futebol. Ao fim e ao cabo a comunicação social também é... bastante lusa!
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