Mesmo antes de chegar ao poder, Passos revelou sempre coragem através de uma visão realista dos nossos problemas. Este transmontano penteadinho esteve sempre à parte da camarilha que nos tem governado, esse conjunto de virgens com passado de madame que anda pelas TVs a negar a realidade. Mas, para mal dos seus e dos nossos pecados, Passos não tem revelado jeiteira nenhuma na forma como aborda os problemas. A sua falta de tacto já matou à nascença vários debates fundamentais. Foi assim com a sustentabilidade da segurança social . Foi assim com a educação . A outro nível, está a ser assim com a reforma do estado .
A falta de inteligência é visível em dois pontos. Em primeiro lugar, Passos fala demasiado e num registo improvisado. Aqueles discursos têm um ar amador, pouco pensado. As causas dos problemas e as soluções ficam misturadas numa amálgama circular. Em segundo lugar, o primeiro-ministro ainda não percebeu que um político começa sempre pela solução e não pelo problema. Um líder começa por dizer que "vamos passar a ter contas individuais na segurança social para precaver o futuro dos actuais contribuintes" e só depois é que diz "não temos dinheiro para pagar as reformas actuais acima de x". Ora, Passos tem feito precisamente o contrário: diz, e bem, que há um problema na segurança social, mas ainda não apresentou soluções que segurem o futuro dos, vá, sub-50. Desta forma, o governo irrita os actuais reformados mas também irrita aqueles que estão a trabalhar. Um político não é um recolector de problemas. Ou melhor: quando está calado, um político é um recolector de problemas, mas quando começa a falar passa a ser um one-man-show das soluções que foram pensadas durante a fase calada. Mas, lá está, Passos não passa muito tempo calado.
Fonte: Expresso Online
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