segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Deixem-me sonhar, c******!

Tenho uma séria dificuldade em lidar com o meu Sportinguismo, pois ele assenta no meu lado de miúdo fascinado por camisolas verde e brancas de Leão Rampante ao peito. À medida que crescemos e vamos aprendendo, parece haver uma maldita voz criada para nos buzinar a alma com a teoria dos pés assentes no chão e de que quanto mais alto é o sonho maior é a queda. Creio, no entanto, que um dos segredos para dar cor à vida é passá-la tendo como objectivo, precisamente, nunca perder esse lado de criança e essa capacidade de «ver cenas fixes» por mais caótico que seja o cenário.

Ora, e estarei muito longe de sentir isto sozinho, por mais movediças que sejam as areias por onde caminha o Leão Rampante, esse meu lado de miúdo obriga-me a acreditar, sempre, em conquistas, em sorrisos, em golos, em histórias para guardar. Não sei viver o Sporting de outra forma. Começo cada época com a cabeça nas nuvens e por mais que sejam as vezes que caio, com estrondo, no chão, recuso-me a mudar a minha forma de ser. Recuso-me a olhar o futebol como uma máquina de fazer dinheiro, em vez de um prazer que nasceu em «relvados de alcatrão com postes feitos de pedras da calçada». Recuso-me a olhar o Sporting de forma comedida, ponderada, mesmo que por vezes transpareça esse estado de espírito. Para mim, Sporting é isto! É este sorriso interior que não se apaga, é este estômago apertado pelo risco de mais uma queda das nuvens, é os olhos vidrados sem justificação.

Eu sei que as goleadas não vão durar sempre (mas pode ser mais uma para a semana, pois pode?). Eu sei que temos que lidar com o bicho mais numeroso desta selva, as hienas, muitas delas disfarçadas com pele de Leão. Eu sei que se tentará desvalorizar, constantemente, o que o meu Sporting faz (o Arouca era uma merda e com a Académica a música seria outra; afinal a Académica também não tem estaleca; até no andebol, depois de se conquistar uma Supertaça contra um adversário extra de apito na boca, se quer passar a ideia que o fcp já tinha a cabeça no palyoff da champions). Eu sei que esta equipa ainda está em fase de laboratório. Eu sei que as bolas aéreas defensivas estão longe de estar afinadas (olha eu a suspirar pelo Dier). Eu sei, eu sei, eu sei… Mas também sei que vi o Rui a voar festejando golos; que este Sporting é formado por jogadores que ali querem jogar e que festejam os golos como equipa; que o William, o Adrien e o André me fazem sonhar; que continuo a apostar as fichas todas no Carrillo; que o Wilson quase marcou um dos golos do ano; que o Cédric cresce cada vez mais; que o Jefferson me vai calando; que o Montero é craque em cada toque que dá na bola; que temos homens como Capel no banco… E que, no espaço de 24 horas, demos três patadas bem dadas na tromba de milhões de hienas.

Olho para Leonardo. E sorrio. Ainda bem que temos alguém que transparece tanto sangue frio à frente da equipa. Ele que gira a emoção dos jogadores. Ele que nos chame à razão. Eu, enquanto Leão, adepto e eterno miúdo, reservo-me a pedir algo muito simples: deixem-me sonhar, c******!

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