segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Visitas de estudo? Não sou babysitter, sou professor!




O texto seguinte é uma caricatura, mas inspirada em situações reais que não aconteceram todas no mesmo dia, mas aconteceram. Pessoalmente e ao fim de 16 anos de carreira, evito visitas de estudo, vou sempre com o coração nas mãos, pois não é a primeira vez nem será a última, que acontece algo e a responsabilidade é sempre do professor, mesmo que tenha feito o que é suposto.
Alexandre Henriques (ComRegras)


Para quem não é professor, imagine levar 30 crianças/jovens enfiados num autocarro durante 1/2/3 horas… Imaginaram??? Vamos ver se imaginaram bem…

Meninos, não quero ninguém de pé!!!

Meninos, já disse que não quero ninguém de pé!!!

Meninos… (rais parta isto), É PÁ SENTEM-SE, PONHAM O CINTO, ANTES QUE ACONTEÇA UMA DESGRAÇA!!! OU SE SENTAM OU VOLTAMOS PARA TRÁS!!!

10 minutos depois…

Sr. Motorista, meta a música mais alta!!!

Sr. Motorista, não gosto dessa música, ponha outra!!!

Sr. Motorista, ponha a música mais baixa, queremos ouvir a nossa música!!!

5 minutos depois…

Meninos, fazem o favor de colocarem a música mais baixa, é que isto não é uma discoteca e ainda nos faltam 2 horas de viagem…

1 minuto depois…

Professor, temos fome… quando é que paramos!!!

Professor, quero ir à casa de banho!!!

Professor, estou a ficar enjoado!!!

20 minutos depois…

Professor, o Manel bateu-me!!!

Professor, a Maria está a gozar comigo!!!

As viagens são sempre uma animação, mas tudo começa antes da viagem, quando 4 ou 5 alunos esquecem-se das autorizações dos encarregados de educação e o autocarro tem de esperar pela Catarina e o António que chegam sempre atrasados…

Chegados ao destino, o interesse é efetivo durante alguns segundos, os segundos suficientes para tirar o telemóvel do bolso e começar a teclar com os amigos virtuais. Alguns vão ficando para trás, pé ante pé, pois andar depressa e escrever mensagens é algo que esta geração ainda não desenvolveu, talvez a próxima venha com um upgradeintegrado.

Mas a pièce de résistance é quando o guia faz o esforço para explicar o que os nossos olhos observam e este sente a dificuldade que os professores sentem numa sala de aula. Os burburinhos, os telemóveis, os risinhos, os comentários foleiros e desajustados, ser guia é o parente mais próximo que um professor pode ter.

A pausa para almoço pode também ser interessante… a hora marcada para o reencontro é uma hora esquecida e pode ser brindada por um menino ou menina que traz algo que não lhe pertence de uma das lojas do centro comercial… ou então arranja um problema com um dos “nativos” e quando damos por ela, temos uma zaragata em pleno Colombo… Não é a primeira vez, nem será a última, que uma visita de estudo tem uma novidade de última hora, a visita a uma esquadra ou hospital mais próximo…

Quanto ao regresso…

Meninos, não quero ninguém de pé!!!

Meninos, já disse que não quero ninguém de pé!!!

Meninos… (rais parta isto), É PÁ SENTEM-SE, PONHAM O CINTO, ANTES QUE ACONTEÇA UMA DESGRAÇA!!! OU SE SENTAM OU VOLTAMOS PARA TRÁS!!!

O resto vocês já sabem…

Nota: Gosto de ser professor, não gosto de ser babysitter, costumo dizer que alguns alunos, nem ao café da frente os levo, já passei algumas vergonhas que não esqueço… Outros até vale a pena acompanhar, mas pelo sim pelo não, prefiro remeter-me à minha insignificância… ser professor.

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