sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

As nossas escolhas: Os 10 melhores discos nacionais de 2012

Fechamos 2012 a recordar o melhor que ouvimos e começamos por arrumar a casa. Não é uma tarefa simples: além de termos ouvido muitos discos nacionais, ficámos com boa impressão de grande parte deles e revelamos agora os nossos 10 favoritos. 

Num ano em que a crise esteve, mais do que nunca, na ordem do dia, ficamos um pouco mais descansados ao olhar para a produção musical nacional. Não que a vida esteja mais fácil para os músicos, mas a diversidade e qualidade das propostas resultou numa das melhores seleções dos últimos anos. Momento de crise, só mesmo quando tivemos de escolher os nossos 10 discos favoritos, que apresentamos abaixo sem nenhuma ordem de preferência.

Como todas as listas pecam por serem incompletas, deixamos o espaço de comentários para eventuais sugestões sobre a música recomendável que se fez por cá ao longo do ano.


Wraygunn - «L'Art Brut» "Shangri-La"

Demorou cinco anos a ter um sucessor, mas um disco como "L'Art Brut" soa-nos a tudo menos ao resultado de um grande esforço. Pelo contrário, aqui tudo nos parece natural e espontâneo, desde o consolidar de uma linguagem sem grande paralelos por cá às histórias que a banda nos conta ao ouvido. E vale a pena esperar tanto por um momento como "Track You Down", com Raquel Ralha a insinuar-se como a melhor femme fatale musical de Coimbra e arredores.


Virgem Suta - «Doce Lar»

"O Galdério", "Bárbara e Ken" ou "Maria Alice" são algumas das figuras que descobrimos no regresso de Jorge Benvinda e Nuno Figueiredo, um "Doce Lar" que de vez em quando se torna amargo ("Exporto Tristeza" também mora aqui). Mas até na amargura os Virgem Suta mantêm o humor, com alguns dos melhores retratos (tão portugueses) que ouvimos este ano. Apesar de pacata, a dupla alentejana sabe que o humor pode ser uma arma e o seu deixa-nos rendidos.


Supernada - «Nada É Possível»

Foram precisos 10 anos para que do estúdio saísse o álbum de estreia dos Supernada. Mas nós perdoamos a demora porque ouvir este disco é ter sempre presente um rock sujo, musculado, com alguns riffs punk, envolvido num ambiente galático criado por sintetizadores e um baixo carregado de groove. E a voz de Manel Cruz, claro, a brilhar alto num ano em que teve, finalmente, o reconhecimento merecido.


Orelha Negra - «Orelha Negra»

Depois de "Orelha Negra" seguiu-se... "Orelha Negra". Mais do mesmo? Só no patamar de qualidade. O segundo disco deste mega projeto é uma celebração constante, como uma noite memorável: brindes, polaroids, juras, vivas a elas... O grupo já deixou a sua marca e o seu estilo já é reconhecido, nada mau para quem só tem quatro anos. Quanto a nós, tem estado sempre no top do que se faz por cá - aliás, do que se faz em qualquer lado...


Norberto Lobo - «Mel Azul»

Que um tipo tímido, magricela, de barba, que não canta e se senta debruçado sobre a sua guitarra acústica para nos mostrar as suas canções sem palavras, a magia das suas melodias e do seu virtuosismo, que esse tipo tenha feito um dos álbuns portuguesas do ano, de seu nome “Mel Azul”, é um dos milagres da música portuguesa de 2012 e um sinal de esperança para o seu futuro. E como é provável que poucos o tenham ouvido, agora é uma boa altura para o descobrir.


David Fonseca - «Seasons: Rising»

Embora encontremos méritos em "Seasons: Falling", é na primeira metade do díptico conceptual de David Fonseca - inspirado pelas estações do ano - que registamos o conjunto de canções mais versátil e contagiante. A sensibilidade pop do cantor de "The 80s" dá-se bem com os ares primaveris e não há como resistir à brisa de "Every time we kiss" ou à ventania de "Armageddon", esta última um dos temas mais efusivos de Little David Boy.


Capicua - «Capicua»

Depois de uma mixtape, lançada em 2008, que despertou atenções de gente como Valete, Ana Fernandes aka Capicua lançou o seu disco homónimo. 2012 viu assim a confirmação de um talento, que veio provar que o rap não é só para homens porque há uma “Maria Capaz” de competir com os grandes nomes da nossa praça. "Capicua" é um disco coeso, repleto de boas canções, verdadeiro nas histórias que conta e tão cru como apaixonante.


António Zambujo - «Quinto»

Em tempos, Alfredo Marceneiro dizia que nunca gravaria um disco, porque o fado era coisa viva que só ao vivo fazia sentido. Património da humanidade, o fado está mais vivo e variado do que nunca e “Quinto”, de António Zambujo, é apenas mais uma prova dessa vitalidade. A química entre os músicos, a poesia das letras, a figura de Zambujo a unir tudo, mostra-nos caminhos para o mais português dos géneros musicais continuar a reinventar-se com qualidade.


Ana Moura - «Desfado»

Ana Moura quis dar um passo em frente na carreira ao enfrentar os puristas do fado. Ainda bem que o fez. Quando pensávamos na fadista, pensávamos em fado tradicional mas já com algumas pontas soltas, com a sugestão de que algo poderia estar a mudar. E foi isso que aconteceu e surpreendeu neste “Desfado”. Ana Moura largou-se das amarras dos cânones e incorporou harmoniosamente elementos de outras sonoridades, como o jazz, muito bem-vindas nos 17 temas do disco. Para continuar...


A Naifa - «Não se deitam comigo corações...»

Depois de um período de luto, o sentimento do fado e a combustão do pós-punk voltaram a encetar uma dança. No primeiro disco d'A Naifa após a morte de João Aguardela, o quarteto surgiu com formação renovada mas a sombra de um dos seus fundadores vinca a poesia noturna cantada por Mitó. As canções, mais despidas, dão outro peso às palavras e da fricção entre texto e atmosfera nascem momentos devastadores como "Émulos".

Fonte: Sapo Música

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