terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Agora deu-nos a "febre da Grécia"...só nos faltava mais esta!

  1. Tenho acompanhado com algum divertimento, confesso, esta autêntica paródia em que se transformou a discussão pública, alimentada por uma infinidade de comentadores mediáticos de serviço ao desvario nacional, sobre a aspiração nacional às condições de financiamento que os credores oficiais da Grécia, quase em desespero de causa, resolveram conceder a este país.
  2. Em contraste cada vez mais impressionante com o que se passa na Irlanda - que segue o seu caminho tranquilamente, trabalha com eficácia para ultrapassar as debilidades que conduziram o País a uma situação de resgate financeiro, regista crescimento económico graças a um forte contributo do investimento estrangeiro, vê as taxas de juro implícitas na cotação sua dívida pública caírem para níveis de 4,5% (no prazo dos 10 anos), está preparada para regressar em condições normais ao mercado da dívida no próximo ano, não participou na greve geral/internacional de 14 de Novembro (por aqui evitou falar-se nisso, claro)...
  3. ...em Portugal discute-se animadamente o sexo dos anjos, agora na forma moderna do acesso às mesmas condições de financiamento da Grécia...embora, ao mesmo tempo, se proclame com uma vaidade um tanto inóspita, que “Deus nos livre de estarmos como a Grécia”, “a nossa situação nada tem a ver com a da Grécia”, e outras considerações que o precário orgulho luso, tendo já tão pouco a que se agarrar, vai debitando dia sim, dia não...
  4. Trata-se, na minha modesta análise, se mais um sintoma da total falta de sentido útil das discussões públicas que desde há alguns anos se apoderou dos media de uma forma geral e a que a classe política se entregou de alma e coração, nalguns casos por ignorância em relação aos problemas fundamentais da economia do País, noutros casos por se convencer que será uma forma "gira" de entreter a opinião pública...
  5. Confesso não perceber que, ao mesmo tempo que tentamos convencer o Mundo das enormes diferenças em relação à Grécia, nos voltemos para esse mesmo Mundo suplicando que nos concedam condições idênticas às que os credores oficiais aceitaram facultar à Grécia, quase em desespero de causa como já acima referi, e em termos que sugerem uma completa abdicação da Grécia da autonomia de condução da sua política económica e financeira...
  6. Compreendo que se pretenda a melhoria das condições dos empréstimos oficiais, especialmente quanto às taxas de juro e outros encargos e como contrapartida do enorme esforço que estamos a fazer, embora as taxas sejam muito inferiores às que vigoram nos mercados, como ontem salientou o Presidente do BCE, e tenham sido já reduzidas no corrente ano...
  7. Mas não compreendo, de todo, que se insista em pretender as mesmas condições que a Grécia, um doente quase-terminal (em termos financeiros), quando ao mesmo tempo que protestamos e nos gabamos de gozar de muito melhor saúde...
  8. Ocorre-me comparar esta “conversa” ao comportamento de uma Empresa A, que gozando de boa saúde económica e financeira e tendo por isso acesso a crédito bancário em condições normais, tem conhecimento de que os seus bancos fecharam um acordo, em processo de insolvência, com a Empresa B, que atingiu o ponto de ruptura e à qual os bancos, na falta de outras soluções (para evitar um processo de liquidação em que provavelmente acabariam por não receber 1 Euro) aceitaram perdoar 50% da dívida e o pagamento do restante a X anos, incluindo uma carência generosa de capital e até de juros...
  9. ...e a Empresa A resolve dirigir-se aos seus bancos solicitando as mesmas condições que as da Empresa B, com o argumento de que está em muito melhores condições económicas e financeiras mas que por uma questão de igualdade...alguém compreenderia tal disparate?

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