quinta-feira, 20 de junho de 2013

O País político incorrigível

Há coisas com que não me consigo conformar.

Entendo muitos dos sacrifícios que estão a ser impostos ao comum dos cidadãos. Talvez por isso não aceite as contínuas manifestações de desperdício de dinheiros públicos a que assisto. Não consigo calar a revolta por ver parte dos nossos impostos desviados sem proveito por um Estado sem meios para se governar e garantir prestações essenciais de acordo com a expetativa da maioria, num País a viver nos limites da insolvência (ainda que sem consciência disso).

Foi há dias anunciada a data das eleições autárquicas. A três meses de distância do sufrágio, por esse país fora em cada esquina pontifica um gigantesco outdoor, daqueles que custam milhares de euros. Junto a escolas com dificuldades no seu funcionamento diário por falta de meios, junto a centros de saúde pejados de gente insatisfeita, a hospitais onde o esforço para manter os níveis assistenciais compatíveis com os impostos que pagamos é heróico pelos relatos que ouço da boca de abnegados profissionais de saúde.

Há dias, quando lamentava em voz alta este que se me afigura um escandaloso regabofe numa situação de penúria e de sofrimento como a que vivemos, foi-me dito que são os custos da democracia e que desabafos como estes são demagogia. Pode ser uma disfunção minha, reconheço. Mas olhando para os outdoors, para todos sem exceção, não surpreendo o que com eles ganha a democracia. Sem intenção demagógica, sei calcular quanto perco eu, contribuinte, que me esforço a trabalhar parte do ano e ao Estado entrego a maior parte do meu rendimento para que o mesmo Estado subvencione campanhas publicitárias. Será que alguém seriamente acredita que esta imensa despesa é minimamente reprodutiva para a vivência democrática e para a consciencialização do valor do voto? Ou que contribui para o conhecimento de programas e intenções de governação local?

Basta olhar para os cartazes. Os que existem e os muitos que a estes se seguirão e que correspondem a um paradigma firmado em milhões e milhões de euros ao longo destas décadas. Salta à vista que se aposta em mensagens publicitárias e não em esclarecimento. Os candidatos promovem-se do mesmo modo e com as mesmas técnicas de promoção dos sabonetes, das pastas dentífricas ou dos mais miseráveis conteúdos televisivos. Para além do favor do photoshop nas imagens, o que se lê são clichés sem significado ou conteúdo. Uma exposição de vaidades que assume custos verdadeiramente pornográficos!

Chamem-me demagogo. Continuarei a dizer o que sinto: é revoltante! Quase tão revoltante como a passividade e a falta de opinião crítica sobre este país político confessadamente incorrigível!

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