Pinto da Costa está no direito de se indignar que os cachets federativos sejam obtidos à conta dos clubes, que são obrigados a ceder os seus profissionais e nada recebem em troca. A não ser o desgaste dos futebolistas e, por vezes, até lesões sofridas pelos jogadores. Este é um plano da discussão que, normalmente, gera algum consenso, não apenas em Portugal mas um pouco por toda a Europa.
Simplesmente, Pinto da Costa foi mais longe e criticou o modo como o selecionador dividiu os minutos de utilização dos convocados, contrapondo a "poupança" de Pepe e Bruno Alves à manutenção mais "longa" em campo dos homens do FC Porto. Paulo Bento não gostou e reagiu como se previa que ele (Bento é mesmo assim) reagisse. Mas no meio de tudo o que disse, há uma frase com uma carga demolidora : "A seleção, desde que entrei até ao dia em que saia, vai ser um cargo desportivo e não um cargo político". Pondo as coisas de outra maneira, o selecionador quis dizer que as divergências "políticas" entre os presidentes dos clubes - quaisquer que eles sejam - e a liderança da FPF, concretamente Fernando Gomes, pertencem a um "departamento" no qual ele não se integra.
Desta vez, Pinto da Costa - que continua a ser um estratega muito difícil de bater - acabou por ver a bola devolvida por quem, certamente, menos esperaria. Se tivesse ficado unicamente pelo ataque à FPF, o presidente do FC Porto ganharia a parada em toda a linha, pois seria muito complicado que viesse da Alexandre Herculano alguma resposta capaz de contrariar a argumentação do líder portista. Assim, ao estender as críticas a Paulo Bento vê-se confrontado com uma resposta-interrogação muito simples : será que também vai criticar publicamente o selecionador da Colômbia, que jogou na América do Norte, por ter utilizado James e Jackson, quase em full-time, no jogo com o Brasil?
Curiosamente, veio de José Peseiro, cujo clube teve o maior contingente de jogadores nesta convocatória, a análise mais sensata da questão. O problema não reside no desafio da seleção em África, mas sim na existência desta data concreta para a realização de particulares das equipas nacionais. A FIFA criou este espaço, à beira do final do ano, numa altura em que os principais clubes europeus estão envolvidos numa fase crucial de definições na Champions e na Liga Europa. Uma data que é "dispensável", como sublinhou o técnico minhoto, tal como outra, acrescento eu, a meio do mês de Agosto.
Só que, queira-se ou não, a FIFA - a maior multinacional do planeta, convém não esquecer - mantém o calendário desta forma, deixando a porta aberta a que determinadas seleções com maior valor comercial (Espanha, Brasil, Argentina, Portugal, Colômbia e outras) aproveitem para realizar jogos cujas verbas a arrecadar são muito superiores às de outras partidas. Quer dizer, efetuar jogos que, mais do que de preparação, são de faturação. Que isto aconteça à custa dos clubes, já é outra história. Mas, acusar as federações de alinharem num negócio que é fomentado pela própria FIFA, é que de pouco serve. Ou nada.
Fonte: Jogo Jogado
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