Guiados por um governo devoto do neoliberalismo em versão radical, ao fim de um ano e meio estamos mais conscientes de que entrámos numa espiral idêntica à da Grécia. Sabíamos que, ao contrário dos anteriores contratos com o FMI, desta vez não poderíamos contar com a desvalorização, e também sabíamos que a “austeridade expansionista” nunca passou de um mito porque na verdade a desvalorização sempre fez parte do pacote das políticas nos países apontados como exemplo. Por isso estava escrito nas estrelas que a execução orçamental de 2012 ia ser um fiasco, como será a a de 2013, embora agora o fiasco seja proclamado aos quatro ventos por muita gente que está bem na vida, sobretudo porque agora também vão ter de pagar algum… para nada.
A UE conhece esta dinâmica mas não muda a política porque o liberalismo alemão (ordoliberalismo) não só está inscrito nos tratados, como é ideologicamente hegemónico na UE. Os sociais-democratas alemães e os socialistas franceses também defendem que os estados devem financiar-se exclusivamente nos mercados financeiros. Os portugueses, tal como os restantes povos do Sul da Europa, pensavam que tinham aderido a uma comunidade de estados solidários e que, integrando a moeda única, poderiam prosperar saudavelmente (sem endividamento excessivo) no seio de uma União cada vez mais integrada também do ponto de vista dos direitos sociais. Enganaram-se, porque embarcaram numa aventura que tinha todos os ingredientes para acabar mal. De facto, não há moeda sem estado, pelo que, ou a UE cria rapidamente um estado europeu federal, o que implica impostos e dívida europeus e transferências de recursos para os estados mais pobres, ou esta zona euro acabará, pelo menos para os seus membros menos desenvolvidos.
A Alemanha fez a sua escolha. As exigências serão implacáveis até que o nosso país, destroçado como a Grécia, finalmente desista. Por isso fechou os olhos à (inevitável) derrapagem do Orçamento português. O preço da benevolência foi agora revelado: em 2013 dar-se-á início à destruição do modesto Estado-providência que a custo fomos construindo segundo os princípios da Constituição de 1976.
Chegados a esta encruzilhada, já não podemos adiar a escolha. Desmantelamos o Estado-providência a pretexto de sanear as contas públicas após o que, já sem financiamento europeu, acabaremos por deixar o euro. Ou assumimos que chegou a hora de dizer basta!, recuperamos a soberania sobre a nossa moeda e reestruturamos a dívida pública.
Fonte: Ladrões de Bicicletas
Sem comentários:
Enviar um comentário