À conversa com Pedro Marques Director do Hotel ficámos a saber também como tudo é mantido: “Funcionámos durante 8 anos com dois jardineiros que já cá trabalhavam à 30 anos e tinham um carinho imenso por este sítio, eles reformaram-se mas por mim continuavam cá a trabalhar.”
A primeira sensação que tive foi de que as proporções entre jardins e edificação são correctas, à escala humana, o que torna muito agradável o passear por este espaço. Os jardins possuem diferentes pontos de interesse e são notórias as diferentes épocas de construção. A diversidade de espécies e de conceitos merecem que nos disciplinemos e criemos um itinerário de visita. Penso que a primeira coisa a fazer é começar por visitar a casa para nos apercebermos da sua relação com o exterior. A ligação é profunda e, em qualquer local da casa o jardim está bem patente mas, gostaria de destacar dois locais, nomeadamente a biblioteca com uma visão para o sector mais antigo e a zona de rés-do-chão com vista para um jardim interior recente com grande influência oriental.
De volta ao exterior pela porta principal, temos à nossa esquerda a zona da capela e logo a seguir um espaço de apartamentos que foram edificados no antigo lagar. Os jardins são de dimensão média e alguns semi-privados e adjacentes aos apartamentos. No espaço mais público são utilizados na sua decoração antigos artefactos ligados às actividades agrícolas. Uma passagem interior leva-nos a uma zona do jardim dominada por uma tenda para eventos. Neste espaço assisti à apanha da uva num caramanchão e nos diversos canteiros implantados encontramos uma profusão de aromáticas e de hortícolas que são utilizadas na confecção de refeições no restaurante do próprio hotel.
O nosso próximo “destino” é, talvez, o espaço mais profundo deste jardim onde árvores centenárias convivem com exuberantes plantações de bambu, a atmosfera é sombria e a luz penetra com dificuldade. Andando alguns metros a paisagem vai-se transformando, o amplo relvado central ganha visibilidade e com ele a luz solar regressa para iluminar o caminho para a fonte dos amores que convive com um grande tanque povoado de nenúfares. O relvado domina a nossa visão, ao fundo temos as edificações do hotel e, por detrás, num plano mais longínquo a cidade de Coimbra. A monotonia do relvado é quebrada por um pequeno lago central e, à direita, um anfiteatro em pedra permite que o espaço seja polivalente ao nível da utilização. O nosso passeio está a terminar e o nosso próximo destino é a zona da piscina e restaurante. A ligação do jardim à arquitectura é perfeita com canteiros com formas simples e repletos de flores criam uma imagem pictórica muito interessante e atraem inúmeras espécies de insectos e de aves.
Sentado à mesa e na esplanada contemplo este espaço em total sintonia com uma refeição de excelência.
Um pouco de história…
A Quinta das Lágrimas está situada na margem esquerda do Mondego, na freguesia de Santa Clara, em Coimbra, Portugal. Ocupa uma área de 18,3 hectares, e desde 1996 encontra-se instalado no Palácio da Quinta das Lágrimas um hotel de luxo da cadeia Relais & Châteaux.
Com jardins exuberantes e fontes como a Fonte dos Amores e a Fonte das Lágrimas que foram palco de histórias de amores proibidos, como o de D. Pedro I com Inês de Castro, que inspiraram artistas durante anos.
Na propriedade existem duas nascentes que foram compradas pela Rainha Isabel de Aragão para abastecer de água, através de um pequeno aqueduto, o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha e o Paço Real, que ficavam ali bem perto. A existência de duas caleiras – uma directamente ligada à mina e consequentemente à Fonte Primitiva cujo acesso é marcado por uma porta do Século XIV e a outra ligada à chamada Fonte da Tradição – que se unem no “Canto dos Amores”, permitindo que a água transportasse as mensagens que iam e vinham do Paço Real. Foi também essa água que ficou vermelha após a morte de Inês de Castro. A explicação é a existência da alga Hildenbrandia rivularis que vive na água doce e é vermelha. O Jardim da Quinta das Lágrimas é constituído maioritariamente por espécies exóticas, algumas das quais com mais de duzentos anos.
O palácio original foi destruído por um incêndio em 1879, sendo reconstruído ao estilo dos antigos solares rurais portugueses, com biblioteca e capela. Na área em redor do palácio ainda podem ser vistos os restos das edificações rurais como o espigueiro, armazém e lagar de azeite.
Em Maio de 2006 foi reinterpretado o primeiro jardim medieval de Portugal, o projecto é da autoria da arquitecta Cristina Castel-Branco.
A ideia subjacente à intervenção foi a recriação de um ambiente de clausura, de bem estar e de grande simplicidade semelhante ao ambiente dos jardins medievais, com espaldares de rosas, pérgolas de vinha, canteiros de plantas hortícolas e aromáticas e dentro deste espaço de contornos irregulares (a geometria não é o forte da Idade Média) surge a fonte octogonal, simbolizando a fonte da vida típica de todas as representações do jardim medieval, para o qual foram seleccionadas cerca de cinquenta espécies de plantas diferentes, cuja existência já antes da época dos Descobrimentos é largamente comprovada por gravuras e documentos da época.
Foi inaugurado no dia 25 de Maio de 2008, o primeiro jardim japonês feito em Portugal. Concebido também pela arquitecta Cristina Castel-Branco e teve um custo total de 15 mil euros. A cerimónia contou com a presença do embaixador do Japão, Hara Satoshi, e mulher, Michiko Satoshi, que se mostraram muito agradados com o espaço.
O jardim foi estudado para este lugar histórico pelo elevado número de visitantes japoneses e para celebrar o encontro de culturas que já conta com cinco séculos de história. De acordo com Cristina Castel-Branco, este novo espaço é essencialmente de conforto e contemplação.
Outra obra da arquitecta foi o anfiteatro da Colina de Camões. O lago redondo com 18 metros de diâmetro é rematado a pedra grossa inspirado no lago seiscentista das Lágrimas que fica perto.
O anfiteatro encontra-se entre o edifício “Quatro Elementos”, de Gonçalo Byrne, já deste século, e a mata centenária.
O projecto tinha como objectivo também manter a segurança hidráulica de uma massa de água vinda de uma bacia muito inclinada e podendo atingir 3.000m³ e, ao mesmo tempo, preservar a beleza, assegurar amenidade e conforto junto à Fonte das Lágrimas, tirar partido das duas sequóias plantadas por volta de 1810 e já com mais de 40 metros de altura, respeitando o antigo canal do lagar.
O anfiteatro estrutura-se no contraste entre a pedra branca e a sombra que faz sobre a relva porque se conjugam (em ângulos sempre diferentes por causa do movimento do sol) o verde, o branco e a cor da sombra. Cristina Castel-Branco desenhou as bancadas, desconstruindo-as, para jogar com este efeito do sol, relva e sombra, atingindo o princípio da land art.
Informação:
Quinta das Lágrimas
Rua António Augusto Gonçalves
3041-901 Coimbra
Portugal
Melhor época para visita: Todo o Ano
Infra-estruturas: Hotel, campo de golfe e piscina
Entrada: Simples 2€
Visita ao jardim Japonês e chá (15h às 18h) 5€
Acessos: A partir do centro da cidade, Largo da Portagem, Ponte de Santa Clara, Av. João das Regras, Rossio de Sta. Clara, Rua António Augusto Gonçalves
Horário:
16 Março a 15 Novembro:
De Terça a Domingo das 10h00 às 19h00
16 Novembro a 15 Março (encerra em Janeiro):
De Quinta a Domingo das 10h00 às 17h00
Site: www.quintadaslagrimas.pt
Visita ao jardim Japonês e chá (15h às 18h) 5€
Acessos: A partir do centro da cidade, Largo da Portagem, Ponte de Santa Clara, Av. João das Regras, Rossio de Sta. Clara, Rua António Augusto Gonçalves
Horário:
16 Março a 15 Novembro:
De Terça a Domingo das 10h00 às 19h00
16 Novembro a 15 Março (encerra em Janeiro):
De Quinta a Domingo das 10h00 às 17h00
Site: www.quintadaslagrimas.pt
Texto: Vasco de Melo Gonçalves e Catarina Gonçalves
Fotografia: Vasco de Melo Gonçalves
Fonte: Portal do Jardim
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