Ele sabe que tão cedo não poderá voltar à política activa, mas quer ter peões bem colocados para, quando chegar o momento, dispor de meios para agir.
E, de qualquer modo, vai condicionando os equilíbrios e as jogadas no PS.
A esse respeito, uma coisa pode António José Seguro ter como certa: mais cedo ou mais tarde a vingança de Sócrates chegará, fazendo-o pagar a ‘falta de lealdade’ demonstrada em momentos decisivos.
Seguro foi dos poucos que mantiveram alguma distância em relação a Sócrates quando este era primeiro-ministro – e Sócrates não é do género de perdoar as ofensas.
Na semana passada, quando nada o fazia prever, os socráticos saíram da toca e deram um sinal de vida.
Tudo começou com uma frase de António Costa, que atacou António José Seguro por não assumir a herança política de José Sócrates.
«Pode criticar-se o passado ou elogiar-se o passado, não se pode é fingir que o passado não existe» – disse o actual presidente da Câmara de Lisboa.
Esta referência implícita de Costa ao antigo líder foi vista como um gesto de simpatia, que não tardaria a ser retribuído: Pedro Silva Pereira, habitual ‘porta-voz’ de Sócrates, veio pedir a antecipação do Congresso, abrindo caminho à candidatura de António Costa à liderança.
E logo a seguir veio o ex-ministro Vieira da Silva dizer o mesmo.
Os socráticos aliavam-se, pois, a António Costa para fazerem uma tenaz a Seguro e o tirarem da liderança socialista.
Seguro e os seus homens reagiram, porém, com inesperada rapidez e determinação.
Falaram em «traição», chamaram todos os nomes aos adversários, tocaram a rebate, reuniram as tropas e prepararam-se para o combate.
Certo de ter a máquina do partido na mão, Seguro avançou para a antecipação do Congresso, tentando não dar tempo a António Costa para preparar convenientemente a candidatura.
Num primeiro momento Costa reagiu, e os jornalistas e alguns apoiantes chegaram a dar a sua candidatura como certa.
Mas subitamente recuou, após perguntar enigmaticamente a Seguro se era capaz de «unir o partido».
Unir como e quem – se era ele, aparentemente, o primeiro factor de desunião?
Ou não era – e António Costa referia-se aos socráticos? (sendo curioso ter aparecido no Rato com Pedro Silva Pereira ao lado).
Toda esta história é muito estranha, e dela é António Costa quem sai pior.
Começa a ser visto como um novo António Vitorino – que é muito bom, muito inteligente, muito preparado, mas não é capaz de avançar para a liderança.
Os socráticos já tinham dito de sua justiça: queriam uma antecipação do Congresso e esperavam que António Costa se candidatasse.
Ora, o Congresso vai ser antecipado, mas Costa não se candidatará.
Resta saber como reagirão a esta desistência os apoiantes de José Sócrates.
E dois casos se podem dar: ou arranjam outro candidato ou António Costa fará nova pirueta e passará de ex-candidato e de ex-não-candidato outra vez a candidato.
Uma coisa é certa: os sócráticos não gostam de Seguro – e, depois do que se passou, a guerra ainda ficou mais acesa.
Basta ver o comportamento de alguns indefectíveis do ex-primeiro-ministro ou ler os seus textos para se perceber que eles já afiavam facas e tudo farão para deitar Seguro abaixo.
Querem voltar a lugares de decisão no PS, querem que a herança de Sócrates seja respeitada, querem que o próprio Sócrates volte a ser idolatrado e a ter uma posição de destaque.
E sabem que, com Seguro, isso dificilmente acontecerá.
A candidatura de António Costa à liderança do PS seria o primeiro acto da recuperação da imagem pessoal de José Sócrates e do regresso dos socráticos à primeira linha do partido.
Mas essa tentativa falhou.
Como Sócrates é persistente, não acredito que desista.
Através de Costa ou de outro qualquer, contem com ele nos próximos episódios da batalha socialista.
Fonte: Sol Online
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